Apenas sete meses de
vida e uma história tão longa para contar. Um diagnóstico, as complicações de
saúde, mas finalmente a esperança de recuperação. A difícil realidade de quem
precisa acreditar nos outros para sobreviver. No entanto, como sensibilizar as
pessoas que foram educadas a não deixar transparecer seus sentimentos em plena
era de relacionamentos digitais?
O filme “Ensaio sobre a Cegueira”, baseado no livro homônimo
de José Saramago, mostra como as pessoas passam a se comportar (e a serem
tratadas) após uma epidemia de “cegueira branca” atingir a cidade. A perda da
visão é usada como metáfora para o fato de não querermos enxergar os outros,
focando-nos cada dia mais em nossos problemas e minimizando o sofrimento alheio.
A era racional e
prática raramente dá margem à sensibilidade. A constante exposição à violência,
à falta de respeito e às mortes leva a um sentimento de frieza. O sentimento de
culpa, que a princípio temos pelas injustiças sociais, se transforma em frieza
para que nosso consciente não sofra com essa punição inconsciente de que “eu
poderia fazer algo para mudar isso.” No entanto, muitas vezes o incômodo
prevalece e é aí que reside a empatia.
Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro. É só
assim que podemos compreender a dor do outro, um sofrimento que não temos ideia
de como é, mas que conseguimos imaginar pelo simples fato de estarmos dispostos
a compreender. É somente com empatia que entendemos que dores não são
comparáveis; minha angústia não é maior nem menor que a do outro, ela é
diferente, pois cada um sente de uma maneira com uma intensidade diferente.
Foi com essa sensibilidade ainda presente no ser humano que Joaquim,
diagnosticado com atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, despertou a empatia
de milhares de pessoas, que se mobilizaram e fizeram doações com esperança na
recuperação da criança. Em tempos de crise financeira e emocional, a cabeça
parece que vai explodir... ainda bem que é o coração quem insiste e resiste
talvez para mostrar que o afeto é sim revolucionário.