A solidão escapa pelas
marcas de estilete no corpo. As manchetes do jornal ilustram adolescentes
deprimidos e machucados pela falta de empatia. A era do desapego faz vítimas
assim como a AIDS em seu surgimento. Ninguém sabe ao certo o que levava a
pessoa a contrair o HIV, nem sabiam um possível tratamento. Pois a cultura dos
relacionamentos artificiais acaba de fazer tantas vítimas quanto, por meio do
suicídio.
As crianças já não
brincam na rua, os adolescentes não se reúnem em barzinhos... é tudo por
intermédio das redes sociais. Até mesmo o convite ao suicídio foi realizado por
meio eletrônico com o convite para o jogo “Baleia Azul”. Jovens são convidados
a completar uma lista de 50 desafios, sendo que o último é acabar com a própria
vida. É, “O mundo está ao contrário e ninguém reparou.”
Esse jogo surgiu na
Rússia e neste ano teve uma repercussão maior devido aos casos ocorridos no
Brasil. No entanto, esse jogo é apenas a “ponta do iceberg”. É apenas a
brincadeira do momento, assim como foi o jogo da asfixia meses atrás. A
juventude está doente e a pressa cotidiana não deixa tempo para percebermos a
proporção que a tristeza tomou. O suicídio é coisa séria, mas não somos
educados para falar da morte, então deixamos passar mais um tabu.
É preciso falar sobre o
suicídio, sobre a depressão, sobre a solidão. A falta de empatia leva à negação
do problema alheio e, consequentemente, ao isolamento. Cada um sofre em seu
canto, não há espaço para dividir os temores. A geração que vive para o
trabalho não consegue se encontrar com a geração que ninguém compreende. Há um gap, um espaço que é preenchido pelo
vazio da esperança.
Novamente, a demanda no
consultório é de depressão, ansiedade, síndrome do pânico. Mais uma vez, a
razão é a falta de tempo para os filhos, a pouca atenção ao sofrimento alheio e
a cultura cada vez mais desapegada por fora e sentimentalista por dentro. Chega
a ser assustador que a depressão, uma doença mental, seja mais incapacitante do
que o câncer. A tristeza constante é algo sério. As consequências podem ser
desastrosas e as cicatrizes, permanentes.