“Nas
favelas, no senado sujeira pra todo lado/Ninguém respeita a Constituição, mas
todos acreditam no futuro da nação.” Desde os anos 80 os jovens brasileiros vêm
cantando indignados “Que país é este?”, mas parece que ainda não conseguiram
responder. Aparentemente o que chega até nós é que divulgar uma ideia é fácil,
lutar por ela é que é difícil.
Como
podemos aprender a não apenas a gritar, mas a fazer algo, se nossos pais,
aquela mesma juventude tão questionadora de outrora, hoje se encontram em
trabalhos infelizes para pagar impostos exorbitantes, porque viram que não
adianta discutir com “coronel”. Como prosseguir vendo que os brasileiros se cansam
e esquecem facilmente da história política do próprio país?
Escrevi
no ano passado e, com muito pesar, volto a dizer: o cenário político atual é de
caos. Mais investigações em andamento e protestos sarcásticos em forma de memes
bem-humorados nas redes sociais. Parece que o brasileiro tem uma resiliência
gigante e consegue se adaptar a qualquer adversidade. Mas não exponho isso como
uma qualidade. A capacidade de “dar um jeitinho” levou o país ao comodismo.
Aprendemos
a não enxergar a desigualdade, a corrupção e a falta de educação. Estamos todos
contaminados pela “cegueira branca” de Saramago.
Desenvolvemos a princípio uma cegueira seletiva, enxergando apenas o que
queremos, o que nos faz bem. Mas o que acontece quando ficamos com os olhos
fechados por muito tempo? “O mundo está ao contrário e ninguém reparou.”
O livro “Ensaio sobre a
cegueira”, mostra uma epidemia, onde todos perdem a visão, gerando um caos na
sociedade. Um tenta ser mais esperto que o outro e cada um luta pela
sobrevivência a seu modo. Não há respeito, há pouca cooperação e todos vivem de
maneira desumana. Parece que você já ouviu essa história antes, não? Ignorando mais
um retrocesso na política do Brasil, seguimos apenas cantando “Que país é este?”