Corrupção, sequestro, suicídio...
violência gerando violência. “O mundo está ao contrário e ninguém reparou.” Aprendemos
a justificar um erro com uma mentira e a resolver um problema apontando um
culpado. Afinal, em um mundo caoticamente imoral, mais uma mentirinha nem vai
fazer diferença. E assim damos continuidade ao ciclo de violência social,
psicológica e física.
Ao longo da vida,
acumulamos medos, incertezas e fracassos, os quais não podemos expor, afinal,
falar sobre nossas inseguranças é sinal de fraqueza. Guardamos mágoas, raiva e
traumas até não caber mais em nós. Então explodimos. Jogamos violentamente para
fora o que não conseguimos mais conter e quem estiver por perto que desvie do “sabugo”.
Embora seja difícil aceitar, somos frágeis e essa catarse periódica está aí
para nos mostrar isso.
Acontece que cada um tem
uma experiência de vida, portanto cada um tem uma maneira própria de expulsar
esses traumas de si. Algumas pessoas são mais agressivas, outra um pouco mais
contidas, alguns arremessam a fúria nos outros e outros implodem, acabando
consigo mesmos. A verdade dolorida é que, no fundo, reconhecemos esses gestos
de agressividade – em maior ou menor grau - também dentro de nós. E isso nos assusta.
Não sabemos do que somos
capazes quando estamos com raiva. No momento de fúria, xingamos, batemos,
brigamos e não nos reconhecemos. É como se estivéssemos “fora de si”. Depois da
tormenta, a calmaria assusta. Podemos ver às claras nossos receios, agora menos
fantasmagóricos e mais nítidos. Nosso medo tem cara, tem cheiro, tem memória. Nossa
fragilidade se apresenta para nós e não sabemos como aceitá-la, afinal, fomos
criados para sermos fortes.
Nessa dificuldade em
aceitar nossos monstros, vamos culpando os políticos pela corrupção (sem pensar
que nós os elegemos), inventamos uma dor de cabeça para não darmos andamento em
uma discussão (que iniciamos) e mentimos para o chefe sobre uma morte na
família para sermos dispensados do trabalho. Encarar a verdade é mais
aterrorizante do que um filme de suspense.
Mas é preciso. É
necessário compreender que se o mundo está do avesso, é porque também demos
nossa contribuição para tal. Fosse fazendo algo ou deixando de fazer. Deixar de
dar atenção a um filho o deixará triste. Ele expressará essa tristeza na
escola, praticando bullying com um colega de sala. Essa colega se irritará e
maltratará um cachorro, que morderá seu dono, que o sacrificará. Tudo é um
ciclo. Aceitar seus monstros e respeitar os dos outros gera aceitação e uma
possibilidade de reparar o mundo, tirando-o do lado avesso.