Professores
universitários sequestrados no Rio de Janeiro e mais feridos em outro tiroteio numa
escola nos EUA. Vivemos um tempo em que gente tem medo de gente e todo mundo
tem medo da vida. Os muros cada vez mais altos e a discussão sobre a
legalização de armas não solucionam o problema e a tensão só aumenta. Em um
ambiente inseguro, o medo se torna irmão do desespero e o desespero, pai da
violência.
Há quem diga que você
não sabe do que é capaz quando exposto a uma situação extrema de violência. Há
quem reage, quem foge e quem fica paralisado. Enquanto um se apodera do
desespero e atira contra os colegas de sala, o outro se esconde no banheiro da
escola. O problema maior é que quanto mais expostos estamos à violência, maior
as chances de nos habituarmos a ela e, consequentemente, nos tornarmos
agressores em potencial.
As
tragédias são acompanhadas pela TV no horário de almoço. Não temos nem tempo
para absorver sobre o homicídio que acabamos de ouvir e já é apresentada uma
notícia de sequestro. Viver como prisioneiros em nossas próprias casas não é
justo, então encaramos o mundo e torcemos para sobrevivermos a mais um dia. O
problema é que o sangre frio que aprendemos a ter para aguentar pequenos abusos
cotidianos uma hora esquenta, e a raiva nem sempre tem uma direção certa.
Uma discussão no trânsito, uma briga na escola pelo
bullying sofrido, o assalto para garantir o dinheiro para a refeição do dia...
e as crianças acompanhando tudo isso “de camarote”, aprendendo com o exemplo
dos pais que maltratam a faxineira da casa, com a novela que aborda o tema do
suicídio e com outros jovens que defendem a liberdade de não ser obrigado a nada.
A violência vem da repetição de pequenos abusos, do
desespero e do medo. A violência é aprendida e aprendemos que é melhor reagir
do que ser surpreendido, não é mesmo? O terror cotidiano nos ensinou a fazer
valer o “olho por olho, dente por dente”. Medrosos, nos armamos, e o gatilho
está prestes a explodir o palavrão, o soco, o tiro. Quem será o próximo alvo da
nossa raiva?