A morte é algo natural que faz parte do processo de vida.
No entanto, as pessoas imprimem simbologias aos eventos, o que leva a morte a
possuir diversos significados dependendo do contexto sócio-histórico-cultural.
Freud diz que o luto é a reação à perda de um ente querido
ou de algo que tenha extrema importância em sua vida, podendo ser um emprego,
por exemplo. Para Kovács, a perda envolve sentimentos e a expressão desses é
essencial no processo de elaboração do luto. O padrão do bom comportamento na
atualidade, que prega o autocontrole e a não demonstração de sentimentos, tem
repercussões críticas, levando o sujeito a negar a perda e esconder sua
tristeza. Essa não expressão dos sentimentos pode levar o indivíduo a uma
cronificação do processo de luto, podendo torná-lo patológico.
A alta incidência de mortes causadas pela violência
contribui para a banalização do luto. A tristeza adquire uma conotação
negativa, devendo ser rejeitada. Logo, a não expressão dá ao sujeito o status
de socialmente adaptado, enquanto psicologicamente, ele está sofrendo.
O luto é um processo necessário à vida humana, que permite
ao indivíduo sofrer, se recompor e seguir adiante. A negação da morte leva as
pessoas a lidar com a perda o tempo todo, revivendo a experiência do luto.
A sociedade está carente de sentimentos. Cada vez há mais
violência e mortes e a maneira mais rápida de lidar com isso é ser indiferente.
Passa a ser normal assistir a reportagens de homicídio enquanto se almoça
macarronada com a família. Atos hediondos são aceitáveis. Basta ter sangue frio
para lidar com isso. É exatamente essa frieza que leva as pessoas ao sofrimento
por não poderem sofrer quando devem.
A morte é algo natural. A perda é inevitável. O sofrimento
durante o luto é essencial para seguir em frente. Enquanto as pessoas ainda
conseguirem entristecer-se e sentir empatia pela perda de outra, é sinal de que
ainda são capazes de sentir. Isso mostra que ainda existe algum sinal de
humanidade.