Olhava as pessoas atravessando a rua enquanto tomava seu
café no bar ao lado. Fotografou o pão de queijo que acabou de pedir e postou a
foto no Facebook. Ansiosamente já aguardava diversos “curtir” e “compartilhar”
assim como a garota que fez um “selfie” e postou no Instagram enquanto esperava
o semáforo abrir.
Acabou o café, mas ninguém havia curtido sua foto. A cada
minuto era como se morresse com ele a esperança de reconhecimento. O pão de
queijo era apenas uma desculpa para ser notado, para mostrar aos outros que ele
está ali e mascarar seu medo de ser esquecido.
A garota recebe algumas “curtidas” por seu “sefie” e
acredita ser a próxima descoberta por uma agência de modelos. Mostra seu decote
para esconder sua carência.
Ambos pelo destino ou por esta foto compartilhada após o
acidente encontram-se brutalmente num atropelamento. A garota avançou o sinal
enquanto olhava o celular enquanto o rapaz atravessou a rua olhando seu tablet.
Do encontro desses dois corpos, ao invés de raiva, houve
reconhecimento. Reconhecimento não da gafe semelhante cometida por ambos, mas
da solidão. Ambos à procura de “likes” traduzidos em elogios e “shares”
convertidos em abraços.
A solidão tomou conta da cidade e ninguém reparou. A
internet e as redes sociais minimizaram as distâncias aproximando os que estão
longe, mas aumentaram os vazios distanciando os que estão perto.
O ser humano necessita de afeto e a falta dele leva a um
exagero quando este acontece em situações raras. O atropelamento talvez nada
mais foi do que uma tentativa desesperada de toque, de afeto. Com a valorização
da individualidade, ninguém quer fazer atividades em grupo, a não ser que seja
através de redes sociais participando de uma comunidade.
Assim, as pessoas vivem fingindo-se felizes em “selfies”,
mostrando somente seus pés na areia da praia, pois seus olhos estão chorando e
continuam a “compartilhar” solidões no Facebook até cansarem e se deixarem ser
atropelados por um outro alguém infeliz.
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