Diversas pessoas me procuram dizendo que estão com
depressão. Outras tantas dizem que seus filhos são hiperativos. Elas já chegam
com o diagnóstico pronto baseado na lista dos sintomas descritos na internet (e
na maioria das vezes, não têm a condição). A impressão que tenho é que até anos
atrás, as pessoas tinham medo de ficar doentes, ainda mais se sofressem com
algum transtorno mental, enquanto hoje, as pessoas parecem se identificar cada
vez mais com as diversas condições de saúde consideradas “anormais”.
A criança que adora correr e brincar é hiperativa. A pessoa
que só pensa em dormir é depressiva. Já não há mais um meio termo. Se pararmos
para analisar as descrições atuais de transtornos mentais descritos em manuais
como DSM-V e CID-10, constataremos que todos somos doentes em algum grau.
A questão não reside simplesmente no fato de ter alguns
sintomas de alguns transtornos; o que ocorre é que as pessoas estão se
identificando cada dia mais com a patologia. Ao invés de ser algo aversivo, é
agora sinônimo de pertencimento. Um indivíduo com transtorno
obsessivo-compulsivo se orgulha em listar seus sintomas sabendo que existem
outras tantas pessoas semelhantes a ele, fazendo, portanto, parte de um grupo
de TOC.
Talvez a solidão seja o grande mal da sociedade. Cada um
vivendo de modo individualista até lembrar que o ser humano é um ser social.
Por mais que preze a independência, gosta do convívio. Chegou-se ao grau de não
sabermos mais como nos relacionar, o que dá espaço para fazer de doenças um elo
com outros indivíduos.
Nesse contexto, nasce a patologização do cotidiano.
Situações comuns a todos em um grau mais maníaco ou mais depressivo é doença.
Tomar muito café é doença. Ter receio de falar em público é doença. Aqui se faz
necessário entender que apesar de podermos apresentar sintomas de alguns
transtornos psiquiátricos, isso não significa que somos necessariamente
doentes. É preciso uma avaliação profissional para diagnosticar tais
transtornos, que são analisados com base na quantidade de sintomas e na
qualidade de vida da pessoa. Como disse Freud: “Antes de diagnosticar a si
mesmo com depressão ou baixa autoestima, primeiro tenha certeza de que você não
está, de fato, cercado por idiotas.”
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