Vinícius de Moraes e
Tom Jobim já diziam: “Tristeza não tem fim, felicidade sim.” Mas não há
problema, a indústria farmacêutica já vem cuidando dessa questão,
revolucionando a vida dos tristonhos e desanimados com Rivotril, Prozac, Ritalina...
Ah, a tão almejada felicidade agora vem em pequenas doses em forma de
comprimidos!
Existe uma geração mimada
e imediatista. Quer tudo pra ontem, quer tudo da maneira que deseja, quer evitar
o sofrimento a qualquer preço. Ela foi
criada por uma sociedade que supervaloriza o sucesso, a revolução tecnológica e
a felicidade estampada nas redes sociais. Ela é artificialmente feliz. Acontece
que essa geração não aguentou... e finalmente adoeceu.
Para tratar de todas as
enfermidades, geralmente psicossomáticas (que têm origem psicológica) dessa
geração, são prescritos cada vez mais medicamentos para suportar mais um dia de
trabalho sem motivação ao invés de se procurar a causa do problema. Não se aceita
a dor. Aliás, falar sobre o sofrimento para um psicólogo é justamente afirmar
que se tem uma tristeza; e isso é inadmissível na nossa sociedade feliz. O
filme “Geração Prozac” ilustra bem essa geração.
O medicamento pretende
melhorar a qualidade de vida das pessoas que estejam com algum grau de
sofrimento, seja físico ou psíquico. No entanto, atualmente, percebe-se o uso
indiscriminado dos remédios para manutenção da saúde, ainda que não sejam
necessários. Ocorre a mecanização da vida e a automatização dos sentimentos.
Para lidar com o luto pela perda de um ente querido, receita-se um
antidepressivo pela urgência de voltar a ser feliz socialmente e laboralmente
funcional.
Enquanto a indústria
farmacêutica lucra com a venda da “felicidade em comprimidos”, a geração fica
cada vez mais refém da Ritalina, do Rivotril... e vive cada dia à espera de uma
nova droga para a solução da ansiedade perante uma escolha de vida. Estamos
viciados na felicidade artificial e esperamos a cura para todo o mal que nós
próprios criamos. Precisamos urgentemente de uma reabilitação para aprendermos
a lidar novamente com nossos próprios pensamentos e sentimentos, de modo a
conseguirmos contradizer os pais da Bossa Nova naturalmente.
Renata, diante desse anseio pela "felicidade em comprimidos", quais os pontos que devem ser levados em consideração para identificar a tênue linha que separa estes casos dos que tem a real necessidade de medicamentos? Claro que o diagnóstico do profissional é de suma importância, mas e quando estes mesmos profissionais também estão nas fileiras da " felicidade em comprimidos"?
ResponderExcluirAntônio, como psicóloga, aprendemos na universidade e temos por recomendação fazermos psicoterapia para podermos praticar a psicologia. Tal recomendação se explica pelo simples fato de que devemos estar saudáveis psiquicamente para podemos atender um paciente. Da mesma maneira, qualquer profissional da área da saúde deve estar estar saudável tanto psíquica quanto fisicamente para poder atender seu paciente da melhor maneira possível. Desse modo, o profissional deve ter autoconhecimento, sabendo de suas limitações para que não prejudique sua saúde, muito menos a do paciente. Há casos em que a medicação se faz necessária sim, porém precisa-se levar em consideração todos os sintomas apresentados pelo paciente e todos os sinais observados pelo profissional da saúde, sempre lembrando que o mais importante é entender o grau de prejuízo que esses têm na qualidade de vida da pessoa.
ExcluirObrigado pelo esclarecimento. Era uma dúvida que surgiu após a leitura do seu texto. Aproveito para lhe parabenizar pelo blog, acompanho sempre as postagens.
ExcluirObrigado pelo esclarecimento. Era uma dúvida que surgiu após a leitura do seu texto. Aproveito para lhe parabenizar pelo blog, acompanho sempre as postagens.
ExcluirConcordo com sua análise e penso que essa agonia da imediaticidade é sim o problema da nossa geração.
ResponderExcluirTalvez essa droga mencionada que virá pra superar os medicamentos e essa reabilitação sugerida seja o autoconhecimento e o respeito pelas fases que devemos passar, é importante sentirmos a tristeza, a frustração, a derrota; enfim sentir as piores sensações pra que quando as melhores chegarem possamos vive-las intensamente e perceber o quanto crescemos com o momento de "fundo do poço". O uso desses fármacos cobrem com uma máscara os sentimentos o que traz a dependência já que no momento em que se para com a ingestão aquela sensação imediatamente evitada vem à tona e três vezes pior.
Exatamente, Camila! O autoconhecimento é essencial para a reabilitação psíquica!
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