Há dez anos, 564 pessoas foram mortas
no estado de São Paulo. Segundo notícias publicadas, as mortes foram
conseqüência de uma ação de “vingança” de agentes de segurança do Estado contra
os ataques da facção denominada Primeiro Comando da Capital (PCC). Nessa ação,
a maioria das vítimas foram jovens civis, fazendo com que diversas mães não pudessem
comemorar o dia delas com seus filhos.
O evento ficou conhecido como “Crimes
de Maio”, onde apesar do grande número de assassinatos, os responsáveis pela
chacina continuam impunes. Diante de tal acontecimento, familiares das vítimas,
em sua maioria mães, uniram-se para dar início ao movimento “Mães de Maio”, em
uma tentativa de alertar para o descaso para com a população.
O psicanalista Freud define o luto
como a reação à perda de um ente querido ou algo de extrema importância
na vida da pessoa, como o emprego, por exemplo. Com a perda, ocorre a
desestruturação psíquica e, consequentemente, a perda de interesse pelo mundo
externo, havendo dificuldade em deparar-se com a realidade. O luto é ainda mais
dificultado pelo modo como a sociedade encara a morte: como um tabu.
Segundo a psicóloga Maria Júlia Kovács, a perda envolve sentimentos, e a
expressão desses é essencial no processo de elaboração do luto. Para a autora,
há o padrão da ética e do bom comportamento na atualidade, no qual as pessoas
são ensinadas a controlarem-se e a não demonstrarem demais seus sentimentos.
Esse padrão tem repercussões críticas no processo de luto, no qual o sujeito
passa a negar a morte e a esconder sua tristeza por qualquer perda. A inibição
e a não expressão dos sentimentos podem levar o indivíduo a uma cronificação do
processo de luto, tornando-o patológico.
Logo, a iniciativa das “Mães de Maio”
foi justamente oposta. Elas encararam o fato e uniram forças para lidar com a
tristeza da casa vazia no dia das mães. O simples transformar em ações auxilia
na elaboração da perda sofrida e a dor compartilhada se tornou combustível para
o movimento influenciar diversas outras lutas pelo país. Os filhos ausentes
agora estão presentes como símbolo de luta por justiça.