sábado, 24 de setembro de 2016

O último mergulho


O espanto diante do inesperado nos faz perder o rumo. Ficamos chocados diante da fragilidade da vida, que pode se acabar em questão de minutos. O falecimento de um ator logo se tornou a “dor” de todos os espectadores, mesmo esses não conhecendo o homem por trás do personagem. Apesar de sabermos da existência das perdas, elas sempre nos “pegam” desprevenidos...
A verdade é que não somos educados para perder. Já nascemos sendo o “bebê mais lindo”, “o mais esperto”. Crescemos acreditando sermos especiais e buscando sempre o reconhecimento tão merecido de vencedor. Perder é uma palavra inaceitável, seja em um jogo de futebol ou em um relacionamento.
A perda de um ente querido ou de algo que tenha extrema importância em nossa vida nos leva ao chamado luto, como disse Freud. Para Kovács, a perda envolve sentimentos e a expressão desses é essencial no processo de elaboração do luto. Mas como expressar essa angústia se nem sabemos ao certo lidar com ela?
O padrão do bom comportamento na atualidade, que prega o autocontrole e a não demonstração de sentimentos, tem repercussões críticas, levando a pessoa a negar a perda e esconder sua tristeza. Acontece que essa não expressão dos sentimentos pode levar o indivíduo ao desenvolvimento de quadros depressivos.

Quando uma morte inesperada se faz presente em nossas vidas, somos forçados a lidar com o fato de que às vezes nós perdemos. Elizabeth Bishop escreveu “A arte de perder”, poema no qual narra pequenos lutos cotidianos aos quais não nos atentamos pelo simples fato de negá-los. Nunca sabemos quando será nosso último mergulho, mas precisamos aceitar que um dia ele se fará presente.

sábado, 10 de setembro de 2016

Quando o balanço vira forca


Há cerca de dois meses, um empresário tirou a própria vida após ser obrigado a demitir mais de 200 funcionários devido à crise financeira do país. A demissão em massa foi vista como motivo de vergonha e culpa por não conseguir driblar a dificuldade. Os noticiários locais exibiam a notícia, mas como disse Chico Buarque: “A dor da gente não sai no jornal.”
O “setembro amarelo” aparece para discutir esse tabu e prevenir esse problema de saúde pública no país. O suicídio pode ter diversas “motivações”. O desejo de morrer – ou desistir de viver – pode nascer da dificuldade de lidar com as perdas. A perda de um membro corporal, que lhe impede de continuar exercendo sua profissão; a perda de um status, que lhe impede de continuar crescendo profissionalmente...
O ser humano não está preparado para lidar com as perdas. Em alguns casos, a ligação da pessoa com o objeto perdido – este pode ser uma pessoa, um emprego ou qualquer coisa importante em sua vida – é tamanha que o indivíduo não consegue se desvencilhar dele, ou seja, não o quer deixar partir. Quando isso acontece, a pessoa vê que parte dela morreu juntamente com o objeto, em outras palavras, a pessoa perdeu parte de si.
A maioria de nós não tem pressa para morrer, no entanto, algumas vêem esse fim como única saída. Enquanto alguns vêem da corda um balanço, outros a vêem como uma forca. Uma das características que define como a pessoa enxerga essa corda é a resiliência, ou seja, a capacidade de lidar com as adversidades de maneira positiva.

O problema é que somos educados para vencer. Qualquer perda é sinônimo de derrota ou fracasso, ainda que tenha sido influenciado por fatores externos, como a economia. A frustração e a angústia levam o indivíduo a procurar a saída mais silenciosa para que sua dor não apareça no jornal, mas a notícia está lá. A esperança é que há prevenção, e precisamos falar sobre suicídio.