Lembro-me como se fosse
ontem meus pais me ensinando o significado das palavras. Recordo-me bem, pois
hoje sou eu quem explico o que significam aqueles nomes complicados em artigos
científicos. Sei que logo serei eu que os auxiliarei a caminhar, a não se
esquecerem dos remédios e dos aniversários...
Desde cedo aprendemos a ser filhos, como é que agora devemos aprender a
sermos pais dos nossos pais?
Talvez nunca iremos
aprender, já que não é a lógica da vida. Nascemos filhos, crescemos filhos e
sempre seremos mimados como crianças pelos nossos super-heróis, que estão sempre
ali, naquele mesmo cantinho chamado lar, para quando quisermos voltar. Acreditamos
que podemos nos arriscar na vida adulta, pois se algo der errado, já sabemos a
quem recorrer, sem lembrar, meio a essa correria do dia a dia, que todos
envelhecemos.
Nossos super-heróis vão
perdendo os “poderes”. Têm dificuldade em ver uma foto no celular sem colocar
os óculos, não escutam o telefone tocar... mas talvez o mais difícil seja
quando esquecem aniversários e compromissos. Se é difícil para nós, filhos,
aceitarmos o envelhecimento dos nossos pais, para eles é ainda pior, pois
sentem-se culpados por não poderem mais ser “modelos” para seus filhos.
Freud já dizia que “é
culpa da mãe”. Digo que é “culpa” dos pais. Eles
superprotegem e mimam, buscando oferecer aos filhos o melhor de si e o melhor
que podem do mundo, fazendo com que as crianças cresçam com a ilusão de que
seus pais sempre estarão ali quando precisarem. Não estamos preparados para
perder, muito menos nossos heróis que curavam tudo com um abraço.
Há uma inversão de
papéis e ninguém está preparado. Há discussões e angústia por não conseguir
expressar o que se deseja nem conseguir compreender o outro lado da questão. Filhos
não aprendem a ser pais, assim como pais não aprendem a ser filhos. O caos é
óbvio, mas é preciso lidar com o problema. Como fazer isso? Também estou
aprendendo... talvez seja realmente uma questão do famoso “tempo das coisas”
que meus avós já diziam...