sábado, 19 de novembro de 2016

Quando me tornei mãe dos meus pais


Lembro-me como se fosse ontem meus pais me ensinando o significado das palavras. Recordo-me bem, pois hoje sou eu quem explico o que significam aqueles nomes complicados em artigos científicos. Sei que logo serei eu que os auxiliarei a caminhar, a não se esquecerem dos remédios e dos aniversários...  Desde cedo aprendemos a ser filhos, como é que agora devemos aprender a sermos pais dos nossos pais?
Talvez nunca iremos aprender, já que não é a lógica da vida. Nascemos filhos, crescemos filhos e sempre seremos mimados como crianças pelos nossos super-heróis, que estão sempre ali, naquele mesmo cantinho chamado lar, para quando quisermos voltar. Acreditamos que podemos nos arriscar na vida adulta, pois se algo der errado, já sabemos a quem recorrer, sem lembrar, meio a essa correria do dia a dia, que todos envelhecemos.
Nossos super-heróis vão perdendo os “poderes”. Têm dificuldade em ver uma foto no celular sem colocar os óculos, não escutam o telefone tocar... mas talvez o mais difícil seja quando esquecem aniversários e compromissos. Se é difícil para nós, filhos, aceitarmos o envelhecimento dos nossos pais, para eles é ainda pior, pois sentem-se culpados por não poderem mais ser “modelos” para seus filhos.
Freud já dizia que “é culpa da mãe”. Digo que é “culpa” dos pais. Eles superprotegem e mimam, buscando oferecer aos filhos o melhor de si e o melhor que podem do mundo, fazendo com que as crianças cresçam com a ilusão de que seus pais sempre estarão ali quando precisarem. Não estamos preparados para perder, muito menos nossos heróis que curavam tudo com um abraço.

Há uma inversão de papéis e ninguém está preparado. Há discussões e angústia por não conseguir expressar o que se deseja nem conseguir compreender o outro lado da questão. Filhos não aprendem a ser pais, assim como pais não aprendem a ser filhos. O caos é óbvio, mas é preciso lidar com o problema. Como fazer isso? Também estou aprendendo... talvez seja realmente uma questão do famoso “tempo das coisas” que meus avós já diziam...

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