A foto do corpo do menino Aylan à beira da praia foi até
agora uma das imagens mais “viralizadas” dos refugiados sírios. A fragilidade
do ser humano parece só chamar a atenção em situações extremas. O drama nosso
de cada dia nos obriga a escolhas, que quase sempre estão envoltas do medo do
desconhecido, mas às vezes enfrentar o medo é a única saída.
O drama da Síria já foi também vivido por diversos outros
povos que tiveram de deixar seu local de origem na busca da esperança.
Migrações decorrentes do tráfico de escravos, guerras mundiais, perseguições
políticas e religiosas... todo o fluxo de indivíduos é decorrente de uma
situação de desespero e esperança de mudança.
A chamada “globalização” induz à ideia de possibilidade.
Logo, é cabível fazer as malas e partir com toda a família para um país das
oportunidades. A questão é que para manter-se como esse “país-modelo”, é
preciso que haja os países subdesenvolvidos, para poder-se comparar essas diferenças
e manter as relações de poder. Em outras palavras, é preciso excluir para
incluir. Primeiro gera-se uma desestabilização, depois cria-se uma ideologia de
inclusão para “o bem geral da nação”. O problema é que não se esperava tamanha
desestabilização. O intenso fluxo migratório esbarra na crise econômica e os
estrangeiros podem “roubar” as poucas vagas de empregos existentes. Logo, as
oportunidades não são universais.
Assim, a imagem do pequeno garoto na praia é apenas parte
do retrato de um povo que busca a esperança do recomeço apesar do medo da
partida. Esses migrantes deixaram não só o país, mas sua identidade cultural.
Eles são estrangeiros em espaços desconhecidos e hostis. Os antes sírios,
passam a ser refugiados, sem país, sem emprego, sem família. A perda da
identidade, além da perda de um filho ao longo da travessia, gera uma
desestabilização psíquica do ser humano, fazendo-o ter tanto medo a ponto de
cegar-lhe e pensar que vale a pena arriscar a própria vida por não ter mais
nada a perder.
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