Desastres naturais,
intolerância, enfermidades, corrupção... em tempos de catástrofes é até difícil
ter o espírito natalino... a única ponta de esperança que ainda nos deixa de pé
é a possível vinda de um salvador... porque ninguém sabe como quebrar esse
círculo vicioso de destruição.
O filme “Melancolia” de
Lars Von Trier retrata o fim do mundo quando um planeta está prestes a se
chocar contra a Terra. O nome desse planeta é semelhante ao título do filme que
é também um estado psíquico de ânimo doloroso, segundo Freud (1915). De modo
geral, melancolia é a perda total do interesse no mundo exterior o que leva a
um torpor de emoções. Em palavras cotidianas, é o completo vazio existencial.
A constante exposição à
violência, à falta de respeito e às mortes levam a um sentimento de frieza. A
princípio, evita-se olhar o morador de rua até perceber que há outro no próximo
quarteirão. O sentimento de culpa que a princípio temos pelas injustiças sociais
se transformam em frieza para que nosso consciente não sofra com essa punição
inconsciente de que “eu poderia fazer algo para mudar isso.” Assim, o comportamento
de fuga e o sentimento de frieza constante levam a um desgaste emocional; não
há mais investimento psíquico em algo sem retorno. Entra-se então em um marasmo,
mais conhecido como vazio.
A era da informação, da
rapidez e da falta de tempo contribuem para a indiferença. O clichê: “Isso é
coisa de adolescente” implica que todo jovem é igual e que essa fase vai
passar, nem adianta tentar conversar. Coloca-se a culpa na idade e distrai-se
trabalhando sem parar. O trabalho virou fuga, não apenas fonte de sustento. Com
o crescente desemprego, as pessoas foram obrigadas a voltar a ver o que
tentavam esquecer fechando o vidro do carro para a pessoa pedindo esmola.
Apesar desse vazio, a
culpa permanece em nós, mas não conosco; a transferimos para outras pessoas,
assim como também projetamos a esperança de salvação. No fundo, queremos mudar
a situação, mas não temos força para começar, pois aprendemos a desviar a
atenção do que nos incomoda. É então que em meio a tantas tragédias, busca-se
um “salvador”. A simbologia do Natal nos faz querer renovar essa força interior,
essa esperança de que senão Jesus, ao menos qualquer Geni possa nos redimir do
temível zepelim.