Mais um ano chega ao
fim e a impressão de que passou rápido continua a mesma de todos os anteriores.
O que também parece continuar é a nossa insistência em renovar as promessas
para o ano novo, mesmo sabendo que ainda nem cumprimos nossas metas de 2016
(nem de 2015, 2014...). Afinal, de onde vem essa teimosia de acreditar que um
simples dígito no calendário vai fazer a diferença?
Na verdade não vai. Um
número por si só não faz diferença alguma, mas o significado que damos a
passagem de uma data a outra passa a fazer sentido quando situado em uma
crença. Acredita-se que o próximo ano é um novo marco inicial. Révellion,
aliás, é uma palavra derivada do francês e significa “acordar”. Seja uma
resolução para melhoria espiritual ou física, a verdade é que metas sempre são
restabelecidas nessa data.
É preciso lembrar que
“promessa” indica “compromisso”, o que ainda quando crianças, aprendemos ser
coisa séria. Por isso, por mais que não alcancemos tudo o que nos propusemos, o
mínimo de mudança já nos é motivo de orgulho; este por sua vez leva a uma
melhora na autoestima, que nos deixa mais felizes e motivados, sendo assim,
seguimos em frente.
Continuamos... mesmo
que o arroz tenha queimado e o leite derramado. Seguimos adiante mesmo quando
estamos cansados e sem esperanças de melhora na economia, ainda que a casa
nunca mais seja a mesma após a partida de alguém. Insistimos mesmo sabendo que
virão outros términos de relacionamento, novas dificuldades de saúde... temos
que continuar.
Essa cobrança de seguir
apesar de tantas adversidades é feita por nós para nós. A questão é que nossa
fé em nós mesmos talvez não seja tão grande quanto à crença que depositamos em
um ritual compartilhado. Quando tudo parece estar perdido, recorremos ao Révellion, à igreja, ao mar, apenas para reencontrar essa força adormecida
dentro de nós após tantas lutas. Talvez isso explique o dom que o ser humano
tem de se reinventar a cada ano, ainda que seja com a esperança de cumprir as
promessas feitas anos antes.