sábado, 21 de julho de 2018

O renascimento dos “Javalis Selvagens”



Liderança, altruísmo e respeito. O resgate dos 12 “Javalis Selvagens” e seu treinador foi acompanhado internacionalmente e mostrou que ainda é possível ter fé na humanidade. Em meio a tantas notícias sangrentas, um desastre que poderia ter acabado em tragédia se transformou em um milagre: todos vivos e ninguém sendo culpado pelo ocorrido.
A vontade de sobreviver falava mais alto do que o medo. Na caverna, no escuro, o treinador assumiu a postura de liderança e, juntamente com os meninos, cavou um buraco formando um bolsão de ar onde todos puderam se manter juntos e aquecidos. Ele ainda ensinou técnicas de meditação aos meninos para que se acalmassem e usassem o mínimo de ar possível para poupar energia. O líder manteve sua equipe viva.
Do lado de fora da caverna de Tham Luang, tailandeses e turistas se mobilizaram para construir uma cidade improvisada, onde alguns serviam comida gratuitamente, outros limpavam os banheiros públicos para que as equipes de resgate pudessem usar e mergulhadores estudavam a melhor maneira de salvar aqueles 13, até então, desconhecidos. Um socorrista voluntário, inclusive, arriscou sua vida ao máximo, vindo a falecer durante a operação. O altruísmo manteve a esperança dos familiares.
Com a trégua da chuva, a operação de resgate foi iniciada e, aos poucos, os “Javalis Selvagens” foram “trazidos de volta à vida”. Os familiares, ansiosos por reverem seus filhos, não se exaltaram nem tentaram invadir o hospital, pois compreenderam a necessidade da quarentena para a recuperação das crianças. Esses mesmos pais, aflitos e preocupados com o desaparecimento dos seus filhos, não culparam o treinador pelo ocorrido, pelo contrário, agradeceram-no por ter cuidado de todos e os mantido em segurança. O respeito mantém a vida.
A organização de todos os envolvidos, os cuidado da equipe médica, o respeito dos repórteres e a compreensão dos familiares estão permitindo que os garotos se recuperem aos poucos do trauma físico e psicológico sofrido. Até mesmo a primeira entrevista dos “Javalis Selvagens” foi previamente analisada por um psicólogo infantil para que não abalasse mais ainda os meninos. A reposta deles frente a essa tragédia: “uma experiência que os deixou mais fortes”. Liderança, altruísmo, respeito e mais uma chance para a fé na humanidade.

sábado, 23 de junho de 2018

Motivação e o fantasma do 7x1



Assim como os grandes nomes do futebol brasileiro, o placar da última Copa não será esquecido. O medo de o episódio se repetir se mistura à torcida para que neste ano os jogadores estejam mais preparados. O que quase ninguém fala, é o desapontamento e o desespero dos jogadores, que diante do mundo todo, decepcionaram seu país. Como chegar motivado neste Mundial após tantas piadas (de todos os países) sobre o gol da Alemanha?
O preparo emocional é tão importante quanto o preparo físico dos atletas, considerando o ambiente de cobrança no qual vivem. Eles podem ganhar milhões, mas a responsabilidade também é maior, assim como a plateia para a qual exibem seu sucesso ou fracasso. Não há como esconder o placar de um jogo transmitido ao vivo, assim como não é possível se esconder a todo momento do público. Os atletas precisam assumir suas falhas.
Em 1958, o Brasil era o único país que havia levado um psicólogo juntamente com a equipe da seleção. Foi também o ano no qual o Brasil conquistou seu primeiro título mundial. A pressão psicológica após a derrota para o Uruguai em 1950 fez com que o treinador repensasse sobre o preparo (também) emocional dos atletas. E deu certo, tanto que o país se despontou nos demais jogos, sendo o único pentacampeão.
A Psicologia do Esporte tem como foco a motivação, o trabalho em equipe e a pressão vivida pelos atletas. O trabalho deve ser contínuo para ter resultados desde curto até longo prazo. É preciso trabalhar pessoas, na sua maioria jovens, que têm como sonho jogar na Seleção Brasileira e carregar consigo o “dever” de fazer valer a convocação. Quanto maior o peso da responsabilidade, maior o nervosismo, a ansiedade e o medo de errar.
Para o hexa, os jogadores precisam se sentir capazes de vencer, e a motivação precisa ser tanto extrínseca (vinda de fora, como do apoio da torcida e do treinador), quanto intrínseca (vinda deles mesmos, da própria força de vontade). O título é apenas uma consequência de uma equipe motivada que sabe trabalhar com dinamismo, preparo físico e emocional e foco.

sábado, 26 de maio de 2018

De onde vem tanta violência?



Professores universitários sequestrados no Rio de Janeiro e mais feridos em outro tiroteio numa escola nos EUA. Vivemos um tempo em que gente tem medo de gente e todo mundo tem medo da vida. Os muros cada vez mais altos e a discussão sobre a legalização de armas não solucionam o problema e a tensão só aumenta. Em um ambiente inseguro, o medo se torna irmão do desespero e o desespero, pai da violência.
Há quem diga que você não sabe do que é capaz quando exposto a uma situação extrema de violência. Há quem reage, quem foge e quem fica paralisado. Enquanto um se apodera do desespero e atira contra os colegas de sala, o outro se esconde no banheiro da escola. O problema maior é que quanto mais expostos estamos à violência, maior as chances de nos habituarmos a ela e, consequentemente, nos tornarmos agressores em potencial.
As tragédias são acompanhadas pela TV no horário de almoço. Não temos nem tempo para absorver sobre o homicídio que acabamos de ouvir e já é apresentada uma notícia de sequestro. Viver como prisioneiros em nossas próprias casas não é justo, então encaramos o mundo e torcemos para sobrevivermos a mais um dia. O problema é que o sangre frio que aprendemos a ter para aguentar pequenos abusos cotidianos uma hora esquenta, e a raiva nem sempre tem uma direção certa.
Uma discussão no trânsito, uma briga na escola pelo bullying sofrido, o assalto para garantir o dinheiro para a refeição do dia... e as crianças acompanhando tudo isso “de camarote”, aprendendo com o exemplo dos pais que maltratam a faxineira da casa, com a novela que aborda o tema do suicídio e com outros jovens que defendem a liberdade de não ser obrigado a nada.
A violência vem da repetição de pequenos abusos, do desespero e do medo. A violência é aprendida e aprendemos que é melhor reagir do que ser surpreendido, não é mesmo? O terror cotidiano nos ensinou a fazer valer o “olho por olho, dente por dente”. Medrosos, nos armamos, e o gatilho está prestes a explodir o palavrão, o soco, o tiro. Quem será o próximo alvo da nossa raiva?

sábado, 28 de abril de 2018

A falsa segurança da zona de conforto


Acomodação. Se estamos bem onde estamos, para que mudar? E, ainda que não estejamos tão bem assim, será que vale a pena arriscar? A zona de conforto nos dá a ilusão de segurança, fazendo-nos pensar que sabemos o que estamos fazendo (ainda que não tenhamos a menor ideia) e que não há perigo algum nesse lugar falsamente seguro no qual estamos. No entanto, em algum momento, a acomodação passa a incomodar. E agora, como proceder?
A correria do dia a dia parece camuflar nossas escolhas cotidianas de levantar mais cedo para preparar o café ou dormir mais alguns minutinhos e ir em jejum ao serviço. Não percebemos, mas todos os dias optamos pelo que vamos comer no almoço, se vamos à academia ou se tentamos dormir mais cedo em vez de terminar aquele filme. Podem ser pequenas, mas são decisões que, inevitavelmente, excluem as demais opções.
Fazer escolhas nem sempre é fácil. Optar por um caminho é consequentemente deixar outro para trás e enquanto não se escolhe, vive-se com a possibilidade. No entanto, precisamos escolher uma profissão, um lugar para sair no sábado à noite, o nome de um filho... Não adianta fugir, para não viver em um marasmo, temos que fazer escolhas que envolvem arriscar-se no desconhecido.
Mas onde está a coragem de sair desse cantinho confortável que já conhecemos tão bem? A motivação acaba sendo muito mais externa, geralmente quando você perde algo que até então trazia essa falsa segurança, como um emprego, por exemplo. Quantas pessoas trabalham em cargos e locais que não gostam, mas não se esforçam para tentar algo melhor? É somente quando ficam desempregadas que passam a ter essa liberdade forçada de poder optar por algo novo.
Mas por que esperar a vida nos dar essa rasteira se no fundo já sabemos que estamos insatisfeitos com a situação? É preciso enxergar que a zona de conforto nada mais é do que nossa maneira de nos proteger contra o medo do desconhecido. Pense no abandono da zona de conforto como uma liberdade de escolha, tão idolatrada nos dias atuais. Escolha ser livre e optar pelo melhor caminho para você mesmo em vez de esperar um imprevisto forçado da vida te tirar o chão.

sábado, 17 de março de 2018

“Quem tem medo do lobo mau?”



Balas perdidas no Rio de Janeiro, bombardeios na Síria, abuso infantil... as pessoas estão perdendo sua humanidade. A honestidade e o respeito escorrem pelo ralo ao ler ou assistir qualquer jornal, onde a violência tem lugar de destaque e já não choca mais quase ninguém. Deixamos a inocência da Chapeuzinho Vermelho de lado e nos tornamos o Lobo Mau: enganamos os outros e devoramos a empatia.
Thomas Hobbes tornou célebre a frase “O homem é o lobo do homem”, do dramaturgo romano Platus, ao reafirmar que “o homem é o maior inimigo do próprio homem”. Em vez de humanidade, o homem aproxima-se da selvageria animal ao agir com desrespeito e violência cometendo atrocidades contra a própria espécie. Aparentemente não há mais pudor em matar, abusar, torturar, roubar...
Há três anos, a foto do menino Aylan desfalecido na praia estampava as manchetes de jornais e revistas. Ainda hoje, muitas crianças sírias continuam sendo alvo dos bombardeios e das metralhadoras apontadas diretamente para suas famílias. As “balas perdidas” (que têm endereço e sobrenome) continuam a destruir comunidades e esperanças, sem previsão de trégua. Não é só uma fase, a intolerância e a guerra são contínuas (porque queremos).
O ser humano tem uma habilidade enorme para adaptar-se. O que, a princípio, é uma qualidade, também se torna sinônimo de fraqueza ao ver que, sem perceber, nos acomodamos com o que nos incomoda. Mais uma pessoa pedindo ajuda no semáforo, mais um que não foi socorrido a tempo no pronto-socorro, mais um jovem encarcerado, mais uma vítima de bullying que atirou contra os colegas de sala...
O lobo mau não é essencialmente mau, mas vai deixando esse lado ruim aflorar ao se deparar continuamente com um ambiente hostil, apático e aversivo. Nos adaptamos aos dias ruins, às filas de espera, à corrupção e, por fim, à maldade. O mundo não vai bem há tempos, mas não tenho tempo para pensar, ou sequer tentar mudar a situação, afinal, o lobo mau são os outros. A gente se acostuma, mas não deveria.

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Tristeza não tem fim, carnaval sim



Com o fim do carnaval, o ano oficialmente começou no Brasil. É hora de encontrar as contas, os boletos e o que restou do salário. Deixar de lado o gliter e as fantasias para encarar o trabalho e a responsabilidade de continuar pagando impostos exorbitantes e criticar o governo nas redes sociais. Imagine se toda aquela multidão carnavalesca se reunisse para votar de maneira consciente neste ano?
Quanto riso, quanta alegria” seria um povo com educação e saúde de qualidade. Os palhaços no salão passariam a ser os políticos que tentar esconder dinheiro na cueca, no apartamento ou na compra de um tríplex. Onde estão agora aqueles foliões animados e unidos na hora de protestar nas urnas eletrônicas?
“Que tiro foi esse” que o povo tanto cantou, mas não enxergou? Nas ruas do Rio de Janeiro houve assaltos, arrastões e as balas perdidas que continuaram a encontrar novas vítimas, mas a música alta distraía o povo alegre demais para se preocupar. Aliás, são apenas alguns dias de festa onde se pode vestir e agir como quiser, porque tudo é permitido. A ideia é aproveitar ao máximo essa “liberdade” antes da chegada do ano novo brasileiro.
O feriado mal terminou e já se pensa no próximo. A concentração está toda na Copa do Mundo, em vez de nas eleições presidenciais. Tudo para fugir da rotina e dos aborrecimentos cotidianos de um pobre assalariado, que inclusive deveria estar focado é na reforma trabalhista para não precisar se vestir de palhaço desempregado no próximo carnaval.
Festejar é preciso sim, mas não se pode deixar cegar pela máscara da ignorância política. De nada adianta criticar o presidente na escola de samba e justificar seu voto depois. Cada coisa tem seu tempo e agora é hora de trabalhar pelos direitos trabalhistas, pela saúde, pela educação, pela segurança pública... Quantos outros tiros ainda deverão ser dados para que o povo ouça o caos por trás dos trios elétricos? “Vai, malandra!”, é hora de mexer o “popozão” e fazer valer sua liberdade de expressão política também.

sábado, 20 de janeiro de 2018

Time’s Up!



Na última cerimônia do Globo de Ouro, as artistas norte-americanas vestiram preto para apoiar o movimento “TimesUp”, uma iniciativa para enfrentar o assédio sexual ocorrido nos ambientes de trabalho, além de defender a ideia de igualdade de direitos, oportunidades e remuneração para as mulheres, que ainda precisam lutar pelo seu espaço no mundo corporativo. O movimento ainda inclui a arrecadação de um fundo de defesa legal para apoiar homens e mulheres que foram assediados em seu ambiente de trabalho. Mas, afinal, o que é assédio?
O assédio, que pode ser moral ou sexual, é um conjunto de atitudes que expõem alguém a situações humilhantes e constrangedoras em seu local de trabalho. O desrespeito de um diretor da empresa para com um funcionário, a desvalorização da competência do colaborador e insinuações sexuais para com um colega de trabalho caracterizam esse agravo relacionado ao trabalho.
A verdade é que todos estão sujeitos ao assédio moral no trabalho, porém o sexual é muito mais comum em mulheres. Imagine trabalhar em um local onde você recebe menos por ter nascido mulher, ser desqualificada por não saber fazer serviço pesado e ainda receber “cantadas” do seu chefe. Se para os homens já é difícil ser xingado por não ser competente o suficiente, imagina para as mulheres ainda correrem o risco de serem abusadas.
Ao contrário do que muitos pensam, o feminismo defende a igualdade de direitos. Apesar das lutas feministas terem se iniciado no final do século XIX e início do XX com a luta pelo direito ao voto, as mulheres ainda precisam lutar para se posicionarem no mercado de trabalho. A diferença salarial é frequentemente justificada pelo fato de que a mulher pode engravidar e prejudicar o andamento do serviço. Mas e os homens? Não podem a vir se machucar no ambiente de trabalho e necessitarem de afastamento, também prejudicando a produção?
A sociedade (ainda) é patriarcal. Os meninos não podem chorar e devem ser os “chefes” da casa, enquanto as meninas devem ter filhos e não uma profissão. Assim, a ideia de cultura inclinada ao machismo é ensinada, ainda que inconscientemente, desde cedo por meio de brinquedos infantis, onde as meninas brincam de casinha e os meninos dirigem carros. Quando é que realmente conseguiremos desconstruir a ideia de que capacidade tem a ver com gênero? Time’s Up! O tempo é agora!