sábado, 23 de abril de 2016

Não vai ter respeito


No domingo passado houve votação para decidir a procedência do processo de impeachment contra a presidente do Brasil. Mais importante que o resultado, foi saber que há ainda liberdade de expressão. O mais triste no entanto, foi ver que não há respeito para com a diferença de opinião. Ao invés de “sim” ou “não”, precisou-se reafirmar as críticas aos opositores, transformando uma sessão da câmara em lavanderia. Portanto, em qualquer discussão, vai ter ódio.
Um grupo é formado por pessoas que compartilham uma ideologia e seu objetivo é reunir-se para fazer algo, geralmente encontrar a resolução para um problema comum a todos os membros. Wilfred Bion, psicanalista britânico, diz que um grupo se reúne em torno de um líder idealizado, que será capaz de promover amparo, força e proteção aos membros, com a esperança de uma resolução futura para os problemas atuais, que serão combatidos.
O grupo funciona pela repetição da ideia, do discurso e da postura; ele repete o comportamento de seu representante, de modo a reforçar seu objetivo. Juntamente com a repetição, vem a valorização dos interesses coletivos sobre os individuais. Segundo Freud (1921), essas atitudes da “mente grupal” mostram a dependência existente entre o líder e os membros de um grupo.
Desse modo, o representante funciona como um modelo para os demais. Assim como crianças aprendem por observação e imitação, também o fazemos quando inseridos em organizações sociais. A falta de respeito por parte dele gera a repetição desse comportamento, como observado nas ruas, redes sociais e até mesmo na votação. A agressividade nas palavras e a falta de ética nas atitudes foram reproduzidas de tal modo que a ansiedade está generalizada e o estado de ódio, instalado.

Foi preciso que houvesse manifestações a nível nacional e que alguém pedisse o impeachment para que pudéssemos chegar à votação de domingo, assim como foi necessário que um representante incitasse a falta de respeito para que os demais repetissem seu (mau) exemplo. Portanto, mais preocupante do que o impasse político, é o desrespeito pela diferença de opinião, que acaba por alienar, tirando o foco do mais importante e fragilizando as relações humanas.

sábado, 9 de abril de 2016

O valor do apego na era do desapego


Reduzir, reutilizar, reciclar... lema que deveria ser aplicado apenas aos bens de consumo passou a ser utilizado também nas relações sociais. Cada vez menos amigos, mais colegas do trabalho temporário, maior quantidade de “relacionamentos abertos”... Bem vindos à era do desapego!
Atualmente se prega a prática do desapego e a independência emocional... tudo que diminua o sofrimento. Devemos nos valorizar, ser otimistas e independentes, então é melhor nem pensar em depender dos outros para sermos felizes, certo? Na verdade, não é bem assim...
O psiquiatra e psicanalista John Bowlby considera o apego como uma característica inerente ao ser humano e tem por função a necessidade de proteção e segurança. Em sua teoria, o bebê desenvolve um comportamento de apego para com o cuidador, desenvolvendo maior vínculo conforme esse cuidador responde ao bebê satisfazendo suas necessidades básicas.
O psicanalista Donald Winnicott complementa essa teoria com o conceito de “mãe suficientemente boa”, ou seja, aquela atenta e capaz de compreender as necessidades da criança e corresponder a elas. De modo geral, se a mãe é suficientemente boa, há criação de um bom vínculo e consequentemente de um apego seguro, caso contrário, existe o apego inseguro. Em suma, crianças com apego seguro apresentam maior autoconfiança na vida adulta.
Esse vínculo entre mãe e bebê é construído e desenvolvido de modo que a criança consiga sentir segurança quando o cuidador não está por perto. A criança passa a entender que os pais saíram, mas voltarão para casa depois do trabalho, criando um ambiente confiante. Quando há o apego inseguro, ora o cuidador atende às necessidades do bebê, ora as ignora, não desenvolvendo um padrão de resposta para os comportamentos da criança, levando ao desenvolvimento de insegurança.

Portanto, esse apego seguro é essencial para a criação de vínculos e desenvolvimento da noção de autoconfiança do indivíduo. Quanto ao desapego, que ele seja praticado com todas aquelas “bugigangas” que guardamos no fundo do armário há anos com dó de jogar fora.