sábado, 20 de junho de 2015

Não é falta de concentração, é excesso de estimulação



Agora a moda é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o famoso TDAH. A criança que não consegue ficar 50 minutos sentada estudando tem TDAH. Na escola, precisa ser quieta e focada para aprender todo o conteúdo teórico dos livros didáticos com professores sem didática alguma para ensinar as crianças na prática por meio de atividades lúdicas. Mas essa quietude faz parte da infância?

A criança é um ser em desenvolvimento psicomotor e necessita do movimento, da convivência, da brincadeira. Crianças nascem praticamente já sabendo mexer no celular. Aos cinco anos já falam português, inglês e espanhol. Aos dez, têm a agenda mais cheia que um adulto; escola, aula de inglês, natação, judô, aulas de reforço escolar, hora cronometrada para as refeições e para o lazer (isso é, se sobrar tempo para este).

Com tantos estímulos, as crianças não têm tempo de se concentrar e produzir conhecimento. Memorizam apenas fragmentos de informações diversas para dar conta de tantas responsabilidades. Estamos enlouquecendo as crianças (?) Com toda essa estimulação é difícil focar em algo específico durante muito tempo, ainda mais durante essa fase do desenvolvimento.

Mas é mais fácil enquadrá-las em um transtorno do que mudarmos o ritmo de vida. Aprendemos que “o ócio é oficina do diabo”, então criamos compromissos diversos para mantermo-nos ocupados, mas não necessariamente produtivos, quando na verdade, é no silêncio da reflexão que surgem as melhores ideias.

Estamos acabando com o bem mais precioso: a criatividade. Ao definir compromissos em horários cronometrados, não damos espaço para a criança brincar e consequentemente, criar. A concentração em uma simples brincadeira de bonecas, crianças inventam histórias e definem papéis, criando um universo lúdico. Ao jogar um jogo de tabuleiro, crianças podem aprender matemática simplesmente contando quantas casas devem mover suas peças. É necessário mais prática, menos teoria.

Os pequenos terão muito tempo para concentrarem-se em fórmulas e debruçarem-se em livros de ciências. Daqui a pouco já serão jovens adultos com suas agendas lotadas de reuniões de trabalho e compromissos “sócio-econômico-culturais”. Limitar a criatividade e estimular demasiadamente o controle em uma fase de desenvolvimento da criança a torna um adulto estressado e infeliz. Não patologize uma criança com TDAH, quando ela está apenas vivenciando sua infância.

sábado, 6 de junho de 2015

A luta dos professores enlutados



Infomamos que a educação, após sofrer com diversos problemas de saúde ao longo da vida, veio a óbito. A falta de investimento em um ensino público de qualidade, a negligência da merenda escolar e a baixa remuneração dos professores levaram à falência múltipla dos órgãos educacionais, já frágeis.

Nesses últimos dias, milhares de professores foram às ruas protestar o descaso para com a educação brasileira. A “recepção” foi feita com balas de borracha, mostrando a violência de uma sociedade na qual a polícia é despreparada e o governo não tem argumentos para discutir civilizadamente. É isso que acontece em qualquer sociedade que não preza a educação. As pessoas não aprendem mais a pensar. (Mas talvez seja isso mesmo o que o governo quer, seres irracionais, afinal, são mais fáceis de manipular.)

É mais fácil e rápido reduzir a maioridade penal do que educar as crianças até sua juventude. Afinal, para que investir 18 anos em crianças que serão futuros profissionais com excelente educação? Para lutar por seus direitos e saber eleger um presidente? Saber pensar é perigoso. O conhecimento é poder, e isso é um direito exclusivo dos manipuladores.

É graças aos professores que médicos encontram curas para doenças, psicólogos conseguem diagnosticar um transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), jornalistas noticiam eventos no mundo todo, e tantos outros profissionais fazem a diferença no mundo. Como psicóloga posso dizer que o melhor colaborador é o professor. Diagnósticos como TDAH e autismo podem ser feitos mais cedo e com maior precisão devido à observação atenta de professores em relação aos seus alunos.
A educação, juntamente com a saúde e a segurança pública formam o tripé da sociedade. Pena que não aprendemos isso. Só aprendemos a reproduzir o que já é sabido; não sabemos produzir. Quando não se tem argumentos, resta somente a violência. Salvemos a espécie em extinção! Lutemos pelo reconhecimento dos professores que sabem que a melhor arma é o conhecimento.