sábado, 24 de dezembro de 2016

Ano novo e a necessidade de renovar as promessas


Mais um ano chega ao fim e a impressão de que passou rápido continua a mesma de todos os anteriores. O que também parece continuar é a nossa insistência em renovar as promessas para o ano novo, mesmo sabendo que ainda nem cumprimos nossas metas de 2016 (nem de 2015, 2014...). Afinal, de onde vem essa teimosia de acreditar que um simples dígito no calendário vai fazer a diferença?
Na verdade não vai. Um número por si só não faz diferença alguma, mas o significado que damos a passagem de uma data a outra passa a fazer sentido quando situado em uma crença. Acredita-se que o próximo ano é um novo marco inicial. Révellion, aliás, é uma palavra derivada do francês e significa “acordar”. Seja uma resolução para melhoria espiritual ou física, a verdade é que metas sempre são restabelecidas nessa data.
É preciso lembrar que “promessa” indica “compromisso”, o que ainda quando crianças, aprendemos ser coisa séria. Por isso, por mais que não alcancemos tudo o que nos propusemos, o mínimo de mudança já nos é motivo de orgulho; este por sua vez leva a uma melhora na autoestima, que nos deixa mais felizes e motivados, sendo assim, seguimos em frente.
Continuamos... mesmo que o arroz tenha queimado e o leite derramado. Seguimos adiante mesmo quando estamos cansados e sem esperanças de melhora na economia, ainda que a casa nunca mais seja a mesma após a partida de alguém. Insistimos mesmo sabendo que virão outros términos de relacionamento, novas dificuldades de saúde... temos que continuar.

Essa cobrança de seguir apesar de tantas adversidades é feita por nós para nós. A questão é que nossa fé em nós mesmos talvez não seja tão grande quanto à crença que depositamos em um ritual compartilhado. Quando tudo parece estar perdido, recorremos ao Révellion, à igreja, ao mar, apenas para reencontrar essa força adormecida dentro de nós após tantas lutas. Talvez isso explique o dom que o ser humano tem de se reinventar a cada ano, ainda que seja com a esperança de cumprir as promessas feitas anos antes.

sábado, 3 de dezembro de 2016

Black Friday e a promoção do que eu não preciso



Vivemos na época do exagero, do descontrole. Extrapolamos demonstrações de afeto e limites no cartão de crédito. As redes sociais estão estampadas com fotos e declarações e no carrinho de compras cabem todos os itens com algum desconto. Compra-se sem saber se realmente é útil, mas pelo simples fato de “é bom ter, vai que um dia precise”. Talvez fosse necessário comercializar o bom senso...
Há quem explique essa demanda do exagero como uma “crise de identidade generalizada”. Sente-se um vazio e logo procura-se algo para amenizar essa falta. Antes mesmo de se interpretar tal ausência, já existe uma gama de oportunidades práticas que prometem diminuir esse “buraco” e adivinhe, todo mundo está “comprando” essa ideia!
A “Black Friday”, ou também conhecida comicamente entre psicanalistas por “histeria generalizada”, vende a ideia de pertencimento à sociedade, e quem não quer fazer parte de um grupo? O problema é que as pessoas têm pressa em “se encaixar” e serem reconhecidas, portanto agem sem pensar e desconsideram suas próprias necessidades em prol da conquista de uma felicidade artificial compartilhada momentaneamente.
A satisfação em encher o carrinho com compras é menos duradoura do que as diversas prestações do parcelamento dos bens de consumo adquiridos. Isso explica uma sociedade insatisfeita e “vazia” que sempre quer mais. O filme “Clube da Luta” de David Fincher ilustra esse tema com algumas colocações válidas: “Temos trabalhos que odiamos para comprar coisas que não precisamos.” e “O que você possui acaba te possuindo.”

A saída dessa “histeria generalizada” é, mais uma vez, o autoconhecimento. Saber o que se quer, do que se gosta e o que não suporta leva o indivíduo a compreender que comprar só porque está na promoção não faz sentido se não tem utilidade para ele. Onde está aquela independência que tanto se busca quando se aceita sem pensar qualquer imposição publicitária?