sábado, 26 de março de 2016

A geração que (pensava que) sabia demais


Somos a geração sabe tudo. Somos informatizados, conectados, globalizados... e por termos acesso fácil à informação, somos preguiçosos. Procrastinamos o estudo, o trabalho e até o lazer. Buscamos pequenos prazeres no meio da correria cotidiana para “respirar”... e vivemos constantemente cansados.
Nossa geração que sabe o que quer, mas não sabe ao certo como chegar lá. Ela se perde na independência. São tantos meios... mas também tantos fins para justificar... ano que vem eu “tomo um rumo na vida”. Idealizamos muito e realizamos pouco. Temos sonhos, mas nos faltam metas. Queremos reconhecimento e salários bons em um ano de empresa. Não sabemos esperar.
Raramente precisamos largar os estudos para trabalhar, falamos mais de uma língua fluentemente e temos tantos certificados que nem cabem na parede do quarto. Precisamos de novidade e não entendemos como nossos pais se orgulham de “vestir a camisa” de uma empresa por tantos anos. Queremos sempre mais em pouco tempo.  
Confundimos liberdade de expressão com obrigação de manifestação, compartilhamos notícias sem buscar a fonte, instalamos a televisão sem ler o manual de instruções, sabemos dos perigos de dirigir alcoolizados, mas saímos para beber todos os finais de semana, erramos e colocamos a culpa nas más companhias e encaramos tudo com ironia.
Somos uma geração triste. Vivemos a crise dos vinte e poucos anos, dos trinta, dos trinta e poucos... a cada aniversário, uma pequena “morte”. Sempre aquela comparação com seus primos e amigos já bem-sucedidos e você ainda tentando fazer a transição do miojo para o macarrão. (Nada fácil passar de universitário a profissional.)

Não queremos consertar. É mais prático comprar um novo. Na verdade, nem temos tempo para isso. É mais simples chamar todos os políticos de corruptos do que estudar para entender o cenário político atual. É mais fácil – e aceitável – reclamar do sistema educacional falho do que estudar maneiras de melhorar a educação. Afinal, somos espertos demais para saber que não vão nos escutar mesmo... nós apenas votamos em nosso líderes, certo? E pra que a pressa? Em pouco tempo teremos nova eleição... passa rápido.

sábado, 12 de março de 2016

A passagem ao ato da postura cívica


O cenário político atual é de caos. Investigações em andamento, protestos nas redes sociais, manifestações sarcásticas bem do “jeitinho brasileiro” para lidar de modo bem-humorado com qualquer adversidade. O país está unido pela diferença de opinião. A questão, no entanto, não é a diversidade de pensamento, mas o discutir por ter o que falar, sem fundamento. Não somos educados na política.
Nosso sistema educacional é cada vez mais direcionado ao vestibular. Os estudantes devem decorar fórmulas matemáticas e datas históricas para somente usarem no Enem e nunca mais. Não nos ensinam a pensar; isso explica tanta dificuldade dos alunos nas questões de interpretação de texto e o famoso medo da redação. A banda britânica Pink Floyd fala dessa manipulação da educação na música “Another brick in the wall” (Outro tijolo no muro, em tradução livre).
É clichê dizer que é cômodo que os indivíduos não pensem, apenas reproduzam ideias “cultivadas” por quem exerce o poder juntamente com o apoio da mídia. Acontece que após tantas exposições de corrupção, essa massa se cansou e começou a usar de sua liberdade de expressão, mostrando todo o seu descontentamento com o país. O problema de não sermos educados na política, é que apenas sabemos dizer que não estamos satisfeitos com algo... não sabemos ao certo como apontar uma solução... então é só caos.
O que há de modo geral é discussão, não ação. Quando existe a ação propriamente dita, essa ocorre de maneira agressiva, pois não aprendemos postura cívica, a não ser para cantar o hino nacional na fila da escola. Passagem ao ato é um conceito psicanalítico definido como uma “atitude imediata em que uma intenção dá lugar à sua realização motora”, em suma, é agir sem pensar (o que geralmente leva ao arrependimento).


A passagem ao ato em massa só leva ao caos coletivo, não trazendo de fato uma solução para o problema, apenas manifestando o descontentamento da população.  Falar somente para exercer a liberdade de expressão e participar de manifestações só para tirar foto não significa fazer política. Isso apenas mostra a necessidade de atenção para a postura cívica de um país que perde sua ética a cada fase da operação lava jato.