domingo, 31 de janeiro de 2016

Está todo mundo louco?


A criança que adora correr e brincar é hiperativa. A pessoa que só pensa em dormir é depressiva. Já não há mais um meio termo. Se pararmos para analisar as descrições atuais de transtornos mentais descritos em manuais como DSM-V e CID-10, constataremos que todos somos doentes em algum grau.
Machado de Assis em 1882 já abordava essa questão em “O Alienista”. Ele conta a história de um médico que decide estudar a psiquiatria e funda a Casa Verde, um hospital psiquiátrico, onde ele internava qualquer pessoa que apresentasse um comportamento fora do comum. Com o tempo, o simples fato de a pessoa ser muito indecisa ou extremamente bajuladora era sinônimo de loucura. Ao longo da narrativa, o psiquiatra perde a noção entre normal e anormal, razão e loucura quando percebe que praticamente todos os habitantes da cidade estão internados.
“O Alienista” nos fala da patologização de comportamentos e personalidades. Cada um tem uma personalidade e um modo de se comportar baseados em fatores epigenéticos (influenciados tanto pela genética quanto pelo ambiente em que vive). Portanto, seu modo de ser não caracteriza necessariamente um transtorno mental. Aqui se faz necessário entender que apesar de podermos apresentar sintomas de alguns transtornos psiquiátricos, isso não significa que somos necessariamente doentes.
Algumas crianças são mais ativas que as outras, assim como algumas pessoas têm manias de organização, mas não significa que esses sujeitos sejam loucos. As estatísticas crescentes de transtornos mentais podem ter duas razões principais: o aumento de conhecimento por meio de estudos e a informação ao alcance de todos. O avanço das pesquisas auxilia no diagnóstico precoce de uma condição de saúde. Por outro lado, a informação a um clique de distância leva à banalização de diagnósticos. O normal da criança é brincar. Aquela que não brinca é autista, enquanto aquela que não sossega é hiperativa. Há diagnóstico para todos.

É preciso ter cuidado e avaliar se o comportamento da pessoa é realmente uma característica dela, portanto, constante, ou se é apenas reflexo da fase de desenvolvimento ou estimulação ambiental. É preciso uma avaliação profissional para diagnosticar tais transtornos, que são analisados com base na quantidade de sintomas e na qualidade de vida da pessoa, lembrando que cada caso é um caso.

sábado, 16 de janeiro de 2016

O medo de ter que recorrer ao plano B


São muitos candidatos para poucas vagas e é muita cobrança para pouco reconhecimento. Mais de cinco milhões de estudantes aguardavam ansiosamente o resultado do Enem e com ele, seu futuro brilhante... ou nem tanto assim. O nervosismo e a ânsia pela aprovação podem prejudicar o desempenho daqueles que tanto se dedicaram aos estudos.
A ansiedade é comum perante ideia de mudança. A expectativa leva a alterações físicas e mentais, como dificuldade de concentração, tensão muscular, dores de cabeça e gástricas, sudorese dentre outros. Quanto mais exigente é a pessoa, mais ela sofre o impacto desses sintomas, pois a cobrança própria é muito grande e, em uma sociedade competitiva, ninguém quer perder.
O desempenho é medido por meio de uma prova teórica, não considerando outros aspectos como inteligência emocional e capacidade de colocar em prática a teoria, por exemplo. Cada pessoa tem facilidade em um tipo de avaliação, o que faz do vestibular uma ferramenta igual, porém não justa. O recomendado a todos é apenas o autocontrole.
Como controlar a ansiedade? Reserve um tempo para o lazer. Sabe aquela expressão de que o jovem “ficou louco de tanto estudar”? Então, sem uma pausa, seu cérebro não agüenta e a pessoa começa a apresentar uma ruptura com o mundo externo, já que o único pensamento no momento é o vestibular. Assim, a pessoa pode começar a falar sozinha, esquecer de se alimentar e de dormir. Lembre-se que foco é diferente de exclusividade. Dê mais atenção aos estudos, mas não se esqueça de parar para respirar.

O psicológico interfere imensamente no desempenho em momentos de cobrança e a falta do controle da ansiedade pode lhe fazer esquecer toda a matéria estudada. Por isso, o importante é lembrar que o desempenho no vestibular não define se a pessoa terá sucesso ou fracasso na vida. A prova é apenas uma porta de entrada para uma nova fase, assim como depois virão os concursos públicos na vida adulta. Não tenha medo de recorrer ao plano B, seja este ir direto para o cursinho ou tirar umas férias curtas para relaxar antes de voltar aos estudos.

sábado, 2 de janeiro de 2016

Sonhar mais um sonho impossível?


Após um ano de tantas perdas: de saúde, de emprego, de entes queridos... 2016 renova a promessa de esperança. Em tempos onde se clama por justiça, paz e respeito, a crença de que o ano novo possa ser diferente fica abalada. Espera-se a vinda do salvador para nos redimir, procura-se uma Geni para nos salvar e tenta-se não perder a fé. Como é dito no filme Amélie Poulain, “são tempos difíceis para os sonhadores”.
Vivemos na era da ansiedade. Depositamos ao mesmo tempo medo e esperança no futuro e colocamos intensidade na falta de tempo. Queremos tudo pra ontem, apesar de deixarmos tudo para depois. Sonhamos, mas não temos força para realizar sozinhos, afinal, “sonho que se sonha junto é realidade”. Precisamos uns dos outros, mas não sabemos mais como nos ajudar, afinal, perdemos a empatia.
Há quem diga que uma das causas para os males cotidianos é a falta de empatia entre as pessoas, ou seja, a incapacidade de se colocar no lugar do outro. Desse modo, impera o ego, e consequentemente, o descaso pela vida em sociedade. Desviam verbas, violentam e matam sem pensar na dor do outro. Sendo assim, como acreditar em um amanhã melhor?
Alguns psicólogos vêem a esperança como um sinal de saúde mental. A psicologia positiva afirma que a pessoa otimista, ou seja, aquela que tem sentimentos de esperança é capaz de criar caminhos para se chegar à meta desejada. A depressão, por exemplo, seria a completa falta desse sentimento. Em suma, tudo se resume em acreditar.

Sabe aquele famoso ditado: “a esperança é a última que morre”? Pois então, é verdade. Por mais cansados que estejamos de tantas tristezas, todo ano ainda insistimos em fazer aquela famosa listinha com objetivos e promessas para o ano novo. Isso é ter esperança. Ainda que aquela dieta tenha durado apenas alguns meses ou que você tenha abandonado as aulas de alguma matéria na faculdade, você promete se formar e se propõe a perder somente o peso realmente necessário. Podem ser tempos difíceis para os sonhadores, mas talvez não seja impossível acreditar.