sábado, 21 de maio de 2016

Transformando o luto em luta


Há dez anos, 564 pessoas foram mortas no estado de São Paulo. Segundo notícias publicadas, as mortes foram conseqüência de uma ação de “vingança” de agentes de segurança do Estado contra os ataques da facção denominada Primeiro Comando da Capital (PCC). Nessa ação, a maioria das vítimas foram jovens civis, fazendo com que diversas mães não pudessem comemorar o dia delas com seus filhos.
O evento ficou conhecido como “Crimes de Maio”, onde apesar do grande número de assassinatos, os responsáveis pela chacina continuam impunes. Diante de tal acontecimento, familiares das vítimas, em sua maioria mães, uniram-se para dar início ao movimento “Mães de Maio”, em uma tentativa de alertar para o descaso para com a população.
O psicanalista Freud define o luto como a reação à perda de um ente querido ou algo de extrema importância na vida da pessoa, como o emprego, por exemplo. Com a perda, ocorre a desestruturação psíquica e, consequentemente, a perda de interesse pelo mundo externo, havendo dificuldade em deparar-se com a realidade. O luto é ainda mais dificultado pelo modo como a sociedade encara a morte: como um tabu.
Segundo a psicóloga Maria Júlia Kovács, a perda envolve sentimentos, e a expressão desses é essencial no processo de elaboração do luto. Para a autora, há o padrão da ética e do bom comportamento na atualidade, no qual as pessoas são ensinadas a controlarem-se e a não demonstrarem demais seus sentimentos. Esse padrão tem repercussões críticas no processo de luto, no qual o sujeito passa a negar a morte e a esconder sua tristeza por qualquer perda. A inibição e a não expressão dos sentimentos podem levar o indivíduo a uma cronificação do processo de luto, tornando-o patológico.

Logo, a iniciativa das “Mães de Maio” foi justamente oposta. Elas encararam o fato e uniram forças para lidar com a tristeza da casa vazia no dia das mães. O simples transformar em ações auxilia na elaboração da perda sofrida e a dor compartilhada se tornou combustível para o movimento influenciar diversas outras lutas pelo país. Os filhos ausentes agora estão presentes como símbolo de luta por justiça.

sábado, 7 de maio de 2016

Bela, letrada e de qualquer lugar


Era uma vez uma mulher que não se encaixava nos padrões sociais. Ela trabalhava, praguejava e saía com os amigos. Não conseguia se contentar com a ideia de ser apenas dona de casa. Queria sempre mais, buscava a independência e a liberdade de ser quem quisesse. Complicado era fazer entender que todos têm seu lugar ao sol.
A avalanche de críticas ao artigo “Bela, recatada e do lar” publicado na revista “Veja” busca romper com qualquer ideia de estereótipo de que só esse tipo de mulher tem valor na sociedade. A matéria publicada na revista “Veja” trata do ideal da mulher dona de casa, mãe e boa esposa como um exemplo a ser seguido, o que irritou profundamente todos os outros ideais de mulher: mães solteiras, trabalhadoras, baladeiras, divorciadas...
O movimento feminista teve seu início no século XIX, buscando a igualdade de direitos e valorizando o empoderamento da mulher na sociedade, de modo a romper com o modelo de sociedade patriarcal. Aos poucos (e após muita discriminação) as donas de casa tornaram-se empresárias, aceitaram seu corpo e assumiram a direção. Como escreveu Karen Curi em seu artigo, como tais mulheres podem ter conquistado seu espaço com tanto suor e ainda assim serem diminuídas à imagem de princesas frágeis em um castelo?
A autoestima tem papel essencial na luta contra a ditadura da mulher ideal. Quanto mais elevada a valorização pessoal, menos se considera a pressão externa, é por isso que pessoas seguras de si são pouco influenciadas por críticas. A autoestima está intimamente relacionada ao valor que você dá a suas qualidades e vontades, sendo assim, se você se sentir realizada com a opção de não ter filhos e essa for uma decisão própria, a pressão social não exercerá um papel crucial na sua vida.

Ao contrário do que muitos questionaram, não há problema algum em ser “bela, recatada e do lar”, problema é querer fazer com que todas as mulheres vejam isso como um padrão a ser seguido. “Lugar da mulher é onde ela quiser” e cada uma saberá a que lugar pertence baseada em suas vontades e valores. O importante é estar feliz, seja no lar, no bar ou onde queira estar.