sábado, 23 de maio de 2015

O ócio necessário



Em um sábado à tarde, você se sente mal por estar deitado no sofá ao invés de fazer algo produtivo. Poderia estar caminhando, fazendo uma pós-graduação... mas nesse tempo que tem livre, você quer mais é fazer nada mesmo. Não se sinta culpado; o ócio é necessário!
Uma pesquisa recente da professora de educação, psicologia e neurociência na Universidade do Sul da Califórnia, Mary Helen Immordino-Yang mostrou a importância da ociosidade para autoconhecimento, bem-estar e criatividade. Como isso acontece? É simples, nesse “tempo livre”, você se “desliga” das obrigações formais de trabalho, estudo, afazeres da casa, e seu cérebro entra em um modo de reflexão. Sem perceber, é nesse momento que você olha para si mesmo e atenta-se para o que gosta de fazer nas horas de lazer, como está se sentindo e até mesmo presta mais atenção às pessoas à sua volta, tudo isso pelo simples fato de não ter a obrigação de fazer qualquer uma dessas coisas.
Sendo assim, esse tempo ocioso é algo positivo e estudos já indicam que quando as crianças têm esse tempo livre de reflexão, geralmente se tornam menos ansiosas e mais motivadas, têm um melhor desempenho em avaliações e conseguem planejar melhor suas ações.
A cada dia mais vivemos a concorrência e para sermos vencedores, não podemos perder tempo, portanto, nada de ócio. Acontece que nessa competitividade o que se destaca é a criatividade. O mundo busca por novidades que muitos podem oferecer, mas nem todos conseguem vender. Nesse sentido, a inovação depende da criatividade em apresentar tal produto, e a criação surge no ócio. Portanto, sim ao ócio.
De modo geral, essa experiência de ócio seria a realização de algo sem ter a obrigação de fazê-lo. É aquilo que se faz porque quer, não porque precisa. É algo que traz sentimento de satisfação, felicidade. É sair para caminhar para se distrair enquanto cuida da saúde ao invés de ter que caminhar para emagrecer. O ócio é necessário e produtivo quando se escolhe fazer o que se gosta nesse tempo de lazer sem se cobrar resultados, sendo a única obrigação não ter dever algum.

sábado, 9 de maio de 2015

A patologização do cotidiano



Diversas pessoas me procuram dizendo que estão com depressão. Outras tantas dizem que seus filhos são hiperativos. Elas já chegam com o diagnóstico pronto baseado na lista dos sintomas descritos na internet (e na maioria das vezes, não têm a condição). A impressão que tenho é que até anos atrás, as pessoas tinham medo de ficar doentes, ainda mais se sofressem com algum transtorno mental, enquanto hoje, as pessoas parecem se identificar cada vez mais com as diversas condições de saúde consideradas “anormais”.

A criança que adora correr e brincar é hiperativa. A pessoa que só pensa em dormir é depressiva. Já não há mais um meio termo. Se pararmos para analisar as descrições atuais de transtornos mentais descritos em manuais como DSM-V e CID-10, constataremos que todos somos doentes em algum grau.

A questão não reside simplesmente no fato de ter alguns sintomas de alguns transtornos; o que ocorre é que as pessoas estão se identificando cada dia mais com a patologia. Ao invés de ser algo aversivo, é agora sinônimo de pertencimento. Um indivíduo com transtorno obsessivo-compulsivo se orgulha em listar seus sintomas sabendo que existem outras tantas pessoas semelhantes a ele, fazendo, portanto, parte de um grupo de TOC.

Talvez a solidão seja o grande mal da sociedade. Cada um vivendo de modo individualista até lembrar que o ser humano é um ser social. Por mais que preze a independência, gosta do convívio. Chegou-se ao grau de não sabermos mais como nos relacionar, o que dá espaço para fazer de doenças um elo com outros indivíduos.

Nesse contexto, nasce a patologização do cotidiano. Situações comuns a todos em um grau mais maníaco ou mais depressivo é doença. Tomar muito café é doença. Ter receio de falar em público é doença. Aqui se faz necessário entender que apesar de podermos apresentar sintomas de alguns transtornos psiquiátricos, isso não significa que somos necessariamente doentes. É preciso uma avaliação profissional para diagnosticar tais transtornos, que são analisados com base na quantidade de sintomas e na qualidade de vida da pessoa. Como disse Freud: “Antes de diagnosticar a si mesmo com depressão ou baixa autoestima, primeiro tenha certeza de que você não está, de fato, cercado por idiotas.”