sábado, 25 de abril de 2015

Quando a luz no fim do túnel é um trem



Ele disse que só queria ser lembrado. Em seu apartamento, prescrições de antidepressivos. Em seu histórico médico, transtornos psiquiátricos. Em sua mente, a ideia de não poder realizar seu sonho de ser piloto. Na realidade, o suicídio (e homicídio dos demais passageiros do vôo) do jovem copiloto alemão.
O suicídio pode ter diversas “motivações”. O desejo de morrer – ou desistir de viver – pode nascer da dificuldade de lidar com as perdas. A perda de um membro corporal que lhe impede de continuar exercendo sua profissão, a perda de uma funcionalidade, como a visão, que lhe impede de alcançar o cargo dos sonhos em uma companhia aérea...
O ser humano não está preparado para lidar com as perdas. Assim, também não aprende a viver o luto, consequentemente, adoecendo. Em alguns casos, a ligação da pessoa com o objeto perdido – este pode ser uma pessoa, um emprego ou qualquer coisa importante em sua vida – é tamanha que o indivíduo não consegue se desvencilhar dele, ou seja, não o quer deixar partir. Quando isso acontece, a pessoa vê que parte dela morreu juntamente com o objeto, em outras palavras, a pessoa perdeu parte de si. Nesses casos, como continuar?
A maioria de nós não tem pressa para morrer, no entanto, algumas vêem esse fim como saída. Enquanto a luz no fim do túnel significa esperança para alguns, para outros, ela é simplesmente um trem chegando, e o melhor a se fazer é jogar-se debaixo dele. Uma das características que define como a pessoa enxerga essa luz é a resiliência, ou seja, a capacidade de lidar com as adversidades de maneira positiva.

O problema é que somos educados para vencer. Qualquer perda é sinônimo de derrota. Não existe frustração maior que não poder realizar um sonho, mas é importante lembrar que se pode ter outros planos. A constante exigência pela perfeição aniquila sonhos e vai de encontro ao sucesso. Há de se ensinar a viver e se reinventar para não querer morrer numa tentativa de reconhecimento social.

sábado, 11 de abril de 2015

Cinquenta tons de sexualidade



O livro “Cinquenta tons de cinza” está entre os mais lidos atualmente. Trata-se da história de um homem bem-sucedido que se envolve com uma jovem estudante. Do ponto de vista psicológico, é o relacionamento entre um sádico e uma masoquista. Ele gosta de provocar dor, e ela sente prazer com esse sofrimento.

No entanto, não pretendo falar sobre o relacionamento sadomasoquista, e sim sobre as diferentes preferências.  Aquele velho clichê de que “gosto não se discute” se encaixa aqui. Cada um tem uma preferência por um tipo de música, um barzinho e assim também é para relacionamentos. A questão está na dificuldade em aceitar a diversidade, razão pela qual muitas pessoas sofrem escondendo-se e defendendo-se do mundo.

Sem perceber, pessoas se identificam com uma ficção e vêem nela uma oportunidade para falar sobre sexo sem se expor pessoalmente. Tornamo-nos voyers; assistimos a filmes, lemos livros e vemos indivíduos expondo suas preferências sexuais e gostamos disso. Sentimos orgulho dessa liberdade de expressão alheia e até a tomamos como nossa própria luta.

Tal expressão só é possível porque existe a vergonha. Vergonha de se expor, de ser julgado e criticado. Essa vergonha une-se ao medo de ser diferente, conceitos criados para controle social. Aprendemos a não reconhecer nossas qualidades. Quem exibe seus talentos é visto como arrogante, metido. Assim, só vemos nossos defeitos e erros, ou seja, quaisquer características que destoam do senso comum.

Deste modo, a sociedade é cinza. Qualquer outra cor gera discussão e é por isso que necessitamos nos refugiar na ficção para colorir a vida; a arte dá liberdade às nossas expressões, e só quem se identifica com ela entende seu significado.