sábado, 27 de agosto de 2016

Competir é uma arte, perder faz parte


Os jogos olímpicos 2016 chegam ao fim e com eles a sensação de dever cumprido, ainda que não da melhor forma. Foram 17 dias de competição, sorrisos, lágrimas e limites ultrapassados. Na cerimônia de encerramento das olimpíadas do Rio, pode-se notar que a alegria da despedida foi bastante similar à da abertura, apesar das perdas.
Perda do equilíbrio, perda do controle, perda da medalha. Aceitar que não foi o melhor do mundo, mas saber que deu o melhor de si é o que mantém cada atleta “derrotado” vivo. Essa capacidade de lidar com situações adversas é uma força intrínseca, chamada resiliência.
Mais resilientes que os atletas olímpicos são os atletas paralímpicos. Perderam não apenas títulos de “vencedor”, mas também parte de si. Enfrentaram o luto ao despedirem-se de parte de seu corpo; encararam os olhares curiosos de crianças e os questionamentos desconcertantes de adultos que poderiam ter ficado em silêncio. Diante do abismo, souberam voar.
A resiliência, apesar de ser uma habilidade do próprio indivíduo, poderá se desenvolver ou não, dependendo do ambiente no qual a pessoa encontra-se inserida e da sua interação com seus familiares e amigos. De um vínculo social acolhedor pode vir a motivação e a vontade de vencer ao acreditar que se pode ultrapassar seus próprios limites.

Maslow, psicólogo norte-americano, definiu as necessidades básicas do ser humano e as hierarquizou de acordo com suas urgências, sendo elas: necessidades fisiológicas, de segurança, de amor, de estima e de autorrealização. Para se alcançar essa última, é necessário satisfazer todas as demais anteriores, que envolvem, dentre outras coisas, o reconhecimento. Assim, com a colaboração do outro e com a constante motivação aliada da resiliência é possível competir e lembrar que amanhã, a medalha de ouro pode ser sua.

sábado, 13 de agosto de 2016

Celular: a nova janela da alma


Pokémon Go é a novidade do momento. Acessível, simples e social, a nova mania é um jogo eletrônico que permite aos jogadores capturar criaturas virtuais que aparecem nas telas de celular como se estivessem no mundo real. A proposta é fazer com que as pessoas explorem a própria cidade conforme o jogador anda à procura dos pokémons para sua coleção. Diante disso, deixo a pergunta: carregamos um celular ou é o celular que nos leva?
Esse novo jogo vai ao encontro de duas questões psicológicas bastante poderosas: a da recompensa e a da busca de sentido. À medida que o jogador alcança uma meta, é apresentada uma recompensa a ela como forma de reconhecimento, o que motiva a pessoa e satisfaz sua necessidade básica de estima, segundo o psicólogo Maslow. Juntamente a isso, o psiquiatra Vitor Frankl fala da necessidade do indivíduo de procurar sentido na vida, o que o leva a buscar complementos para seu vazio existencial.
O regime capitalista cria a lógica da necessidade do consumo, sendo assim, “Tenho, logo existo.” Queremos sem saber o que é, somente porque temos a necessidade da busca pelo prazer imediato para preencher nosso vazio. Tendo a ansiedade por excelência, a criança e até mesmo jovens adultos das gerações Y e Z encontram no mundo virtual a recompensa ilusória do objetivo alcançado.
Quando queremos conversar, mandamos mensagem de texto via WhatsApp; quando queremos ver a pessoa, olhamos seu Instagram. A tecnologia conseguiu aproximar as pessoas que moram longe e afastar as que estão do nosso lado. Ao percorrer a cidade à procura dos Pokémons, não se tira os olhos do celular para verificar se há algum carro no caminho. Até agora, essa nova mania eletrônica tomou proporção de caos social e diversos adolescentes já faleceram por não prestarem atenção ao trânsito.

A questão não é brincar, mas o modo como o indivíduo se relaciona com o jogo. O celular tornou-se oxigênio e os aplicativos eletrônicos são alimento para a alma. A quase total indiferença pelo mundo real leva psiquiatras e psicólogos a diagnosticarem uma geração com déficit de atenção, sendo o problema, na verdade, apenas falta de limite e necessidade de um pouco de atenção.