sábado, 28 de março de 2015

O luto proibido



A morte é algo natural que faz parte do processo de vida. No entanto, as pessoas imprimem simbologias aos eventos, o que leva a morte a possuir diversos significados dependendo do contexto sócio-histórico-cultural.
Freud diz que o luto é a reação à perda de um ente querido ou de algo que tenha extrema importância em sua vida, podendo ser um emprego, por exemplo. Para Kovács, a perda envolve sentimentos e a expressão desses é essencial no processo de elaboração do luto. O padrão do bom comportamento na atualidade, que prega o autocontrole e a não demonstração de sentimentos, tem repercussões críticas, levando o sujeito a negar a perda e esconder sua tristeza. Essa não expressão dos sentimentos pode levar o indivíduo a uma cronificação do processo de luto, podendo torná-lo patológico.
A alta incidência de mortes causadas pela violência contribui para a banalização do luto. A tristeza adquire uma conotação negativa, devendo ser rejeitada. Logo, a não expressão dá ao sujeito o status de socialmente adaptado, enquanto psicologicamente, ele está sofrendo.
O luto é um processo necessário à vida humana, que permite ao indivíduo sofrer, se recompor e seguir adiante. A negação da morte leva as pessoas a lidar com a perda o tempo todo, revivendo a experiência do luto.
A sociedade está carente de sentimentos. Cada vez há mais violência e mortes e a maneira mais rápida de lidar com isso é ser indiferente. Passa a ser normal assistir a reportagens de homicídio enquanto se almoça macarronada com a família. Atos hediondos são aceitáveis. Basta ter sangue frio para lidar com isso. É exatamente essa frieza que leva as pessoas ao sofrimento por não poderem sofrer quando devem.

A morte é algo natural. A perda é inevitável. O sofrimento durante o luto é essencial para seguir em frente. Enquanto as pessoas ainda conseguirem entristecer-se e sentir empatia pela perda de outra, é sinal de que ainda são capazes de sentir. Isso mostra que ainda existe algum sinal de humanidade.

sábado, 14 de março de 2015

A solidão compartilhada



Olhava as pessoas atravessando a rua enquanto tomava seu café no bar ao lado. Fotografou o pão de queijo que acabou de pedir e postou a foto no Facebook. Ansiosamente já aguardava diversos “curtir” e “compartilhar” assim como a garota que fez um “selfie” e postou no Instagram enquanto esperava o semáforo abrir.
Acabou o café, mas ninguém havia curtido sua foto. A cada minuto era como se morresse com ele a esperança de reconhecimento. O pão de queijo era apenas uma desculpa para ser notado, para mostrar aos outros que ele está ali e mascarar seu medo de ser esquecido.
A garota recebe algumas “curtidas” por seu “sefie” e acredita ser a próxima descoberta por uma agência de modelos. Mostra seu decote para esconder sua carência.
Ambos pelo destino ou por esta foto compartilhada após o acidente encontram-se brutalmente num atropelamento. A garota avançou o sinal enquanto olhava o celular enquanto o rapaz atravessou a rua olhando seu tablet.
Do encontro desses dois corpos, ao invés de raiva, houve reconhecimento. Reconhecimento não da gafe semelhante cometida por ambos, mas da solidão. Ambos à procura de “likes” traduzidos em elogios e “shares” convertidos em abraços.
A solidão tomou conta da cidade e ninguém reparou. A internet e as redes sociais minimizaram as distâncias aproximando os que estão longe, mas aumentaram os vazios distanciando os que estão perto.
O ser humano necessita de afeto e a falta dele leva a um exagero quando este acontece em situações raras. O atropelamento talvez nada mais foi do que uma tentativa desesperada de toque, de afeto. Com a valorização da individualidade, ninguém quer fazer atividades em grupo, a não ser que seja através de redes sociais participando de uma comunidade.
Assim, as pessoas vivem fingindo-se felizes em “selfies”, mostrando somente seus pés na areia da praia, pois seus olhos estão chorando e continuam a “compartilhar” solidões no Facebook até cansarem e se deixarem ser atropelados por um outro alguém infeliz.


A elaboração do cotidiano

Já dizia Carl Jung: "Quem olha para fora sonha, quem olha para dentro desperta."
Ao olhar para dentro de mim, pude me compreender. Despertei minha alma e acabei vendo o mundo com outros olhos. 
Dessa nova visão, misturei teoria e prática e passei a escrever sobre a psicologia presente no dia a dia.
Apresento-lhes o blog: Psicologia Cotidiana.