sábado, 13 de maio de 2017

A cicatriz da tristeza


A solidão escapa pelas marcas de estilete no corpo. As manchetes do jornal ilustram adolescentes deprimidos e machucados pela falta de empatia. A era do desapego faz vítimas assim como a AIDS em seu surgimento. Ninguém sabe ao certo o que levava a pessoa a contrair o HIV, nem sabiam um possível tratamento. Pois a cultura dos relacionamentos artificiais acaba de fazer tantas vítimas quanto, por meio do suicídio.
As crianças já não brincam na rua, os adolescentes não se reúnem em barzinhos... é tudo por intermédio das redes sociais. Até mesmo o convite ao suicídio foi realizado por meio eletrônico com o convite para o jogo “Baleia Azul”. Jovens são convidados a completar uma lista de 50 desafios, sendo que o último é acabar com a própria vida. É, “O mundo está ao contrário e ninguém reparou.”
Esse jogo surgiu na Rússia e neste ano teve uma repercussão maior devido aos casos ocorridos no Brasil. No entanto, esse jogo é apenas a “ponta do iceberg”. É apenas a brincadeira do momento, assim como foi o jogo da asfixia meses atrás. A juventude está doente e a pressa cotidiana não deixa tempo para percebermos a proporção que a tristeza tomou. O suicídio é coisa séria, mas não somos educados para falar da morte, então deixamos passar mais um tabu.
É preciso falar sobre o suicídio, sobre a depressão, sobre a solidão. A falta de empatia leva à negação do problema alheio e, consequentemente, ao isolamento. Cada um sofre em seu canto, não há espaço para dividir os temores. A geração que vive para o trabalho não consegue se encontrar com a geração que ninguém compreende. Há um gap, um espaço que é preenchido pelo vazio da esperança.

Novamente, a demanda no consultório é de depressão, ansiedade, síndrome do pânico. Mais uma vez, a razão é a falta de tempo para os filhos, a pouca atenção ao sofrimento alheio e a cultura cada vez mais desapegada por fora e sentimentalista por dentro. Chega a ser assustador que a depressão, uma doença mental, seja mais incapacitante do que o câncer. A tristeza constante é algo sério. As consequências podem ser desastrosas e as cicatrizes, permanentes.