sábado, 29 de agosto de 2015

Mãe, quero Ritalina!


Lançada na década de 50, a Ritalina, nome comercial do metilfenidato, vem sendo cada vez mais prescrita para crianças e adolescentes com diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Uma pesquisa feita pela UERJ indica que a comercialização desse medicamento cresceu 775% em dez anos. Serão as crianças que estão cada vez mais doentes?
O TDAH tem também bases orgânicas, portanto em alguns casos a medicação é viável. O metilfenidato atua nos neurotransmissores cerebrais, mais especificamente na dopamina, fazendo com que o indivíduo consiga concentrar-se em alguma tarefa por mais tempo, daí a (falsa) fama desse medicamento ser chamado de “droga da inteligência”.
Pessoas com TDAH têm dificuldade em se concentrar em algo por muito tempo, parecem mais dispersas e agitadas, então a Ritalina viria para amenizar essa situação. A questão a ser considerada é que nem todas as pessoas com esse diagnóstico precisam do remédio. Aspectos ambientais e sociais devem ser considerados ao analisar se o indivíduo é naturalmente mais agitado ou disperso ou se age dessa maneira apenas em determinadas situações. Outra questão a ser considerada é o fato de crianças e adolescentes estarem em fase de desenvolvimento, portanto espera-se uma agitação e impulsividade maior por parte deles.
Ao contrário do que se acredita, a Ritalina não é uma cura para o TDAH. Ela apenas ameniza alguns sintomas, mas não descarta a necessidade de acompanhamento psicológico. A pessoa precisa entender seu próprio funcionamento e aprender a agir dentro das suas limitações. O metilfenidato não deixa de ser uma droga, e assim como qualquer outra, pode causar dependência e tolerância ao longo dos anos. Ele pode ter um efeito bastante benéfico a curto prazo, mas a médio e longo prazo é insuficiente para as necessidades de autocontrole, capacidade de organização e planejamento, capacidade de relacionar-se e equilíbrio emocional.

Portanto, não adianta medicar seu filho e esperar que ele mude seu padrão comportamental. Mais do que apegar-se à quantidade de sintomas que seu filho apresenta do transtorno, é essencial considerar o grau de prejuízo que tais sintomas têm na vida da pessoa. Uma criança pode ser extremamente agitada, porém muito inteligente. Um indivíduo pode ser disperso e conseguir focar-se em um mesmo filme por duas horas. É importante observar as potencialidades além dos sintomas do TDAH para que se possa intervir de maneira precisa e duradoura no comportamento, não apenas a “doses milagrosas” de um medicamento.

sábado, 15 de agosto de 2015

Tudo o que você pode ser


“O que você quer ser quando crescer?” Essa é uma das perguntas que crianças e adolescentes mais ouvem no dia a dia. “Poderia ter feito outra coisa da vida.” é o que mais se ouve de adultos frustrados com a profissão escolhida. A quantidade de pessoas infelizes na carreira cresce a cada dia e os sintomas dessa decepção aparecem na forma de doenças ocupacionais, transtornos psicológicos, falta de motivação, queda de produtividade e absenteísmo no trabalho.
O jovem é obrigado a se decidir numa fase em que tudo é indecisão. Dúvidas, insegurança, medo e imaturidade marcam as diversas “crises existenciais” da juventude. São adultos para assumir a responsabilidade de escolher uma profissão, mas jovens demais para saírem de casa. A escolha de uma carreira gera mais ansiedade nesse turbilhão de incertezas cotidianas.
É bastante comum ouvir que um adolescente “ficou louco” de tanto estudar. Uma grande carga de tensão emocional leva a distúrbios psíquicos, sendo os mais comuns o transtorno de ansiedade e o transtorno de somatização. No primeiro, crises de sudorese, terror e medos irrealistas são comuns. No último, dores de cabeça e de estômago são frequentes. De modo geral, o corpo adoece, mostrando que a mente não está conseguindo processar todo esse turbilhão de informações e deveres de modo natural. É ai que os pais correm com seus filhos para a psicoterapia.
Sim, há uma maneira de facilitar esse momento de escolha com uma técnica chamada orientação vocacional ou orientação profissional. Essa consiste na realização de uma gama de atividades relativas ao autoconhecimento, personalidade, interesses e habilidades. Leva-se também em consideração os aspectos sociais da profissão de interesse, como atuação no mercado de trabalho e remuneração. A orientação profissional serve para direcionar a pessoa para a carreira que mais se enquadra em seu perfil e interesses.

Já dizia Confúcio: “Escolha um trabalho que você ame e não terás que trabalhar um único dia em sua vida”. Neste processo de descoberta da profissão, o apoio dos pais é essencial. Os jovens precisam de pessoas que transmitam segurança e confiança. Eles já estão indecisos o suficiente nessa gama de opções e querem apenas uma certeza: o sim, lhe apoiamos na sua decisão, seja ela qual for. Lembre-se: o importante é a realização profissional.

sábado, 1 de agosto de 2015

Falta concentração, sobra energia


Na semana passada, um menino de oito anos foi algemado na escola por um policial por “não parar quieto”. A ignorância de um transtorno psicológico e a falta de preparo resultaram em um episódio agressivo que chocou o público. A criança não conseguia ficar quieta, pois tem transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, o TDAH.
Esse transtorno é caracterizado pela desatenção, hiperatividade e impulsividade, e pode afetar a conduta emocional, a adaptação social e até o rendimento escolar. O TDAH tem fatores genéticos, portanto não adianta algemar uma criança; a agitação é própria da pessoa.
Pesquisas apontam a prevalência de 3 a 5% de adolescentes com esse transtorno na idade escolar. O TDAH associa-se ao risco do aumento de mau desempenho na escola; dificuldades de relacionamento com familiares, colegas e amigos além do desenvolvimento de ansiedade, baixa autoestima, problemas de conduta e uso precoce de drogas. Estudos apontam uma prevalência do TDAH na vida adulta entre 30% e 70%, fato que indica ser de fundamental importância o diagnóstico precoce e a capacitação de pais e educadores para a prevenção de comorbidades futuras.
Quando o transtorno continua explícito na idade adulta, os sintomas mais comuns são dificuldade de organizar e planejar as atividades do dia a dia, tendência a ficar “estressado” quando se vê sobrecarregado, não terminar trabalhos, dificuldade para realizar sozinho suas tarefas e dificuldade de concentração para leitura ou assistir palestras.
O diagnóstico é clínico e pode ser realizado por um neurologista, psiquiatra ou psicólogo, com o auxilio dos pais e da escola, e deve ser contextualizado, levando-se em conta os comportamentos em cada ambiente onde a pessoa encontra-se inserida. Deve-se observar os sintomas considerando sua duração, frequência e o grau de prejuízo causado.
Ao invés de tentar conter uma criança por sua agitação, deve-se tentar focar tal energia em atividades físicas, onde o sujeito pode ser “hiperativo” à vontade. A dificuldade de concentração pode acompanhar a pessoa durante toda a sua vida, mas é possível concluir uma tarefa que seja dividida em diversos passos intercalada com outras atividades, assim o indivíduo faz diferentes coisas em intervalos curtos, conseguindo focar-se pelo menos durante alguns minutos.