sábado, 29 de abril de 2017

Big Brother: a nova caixa de Skinner



Mais uma edição do programa Big Brother no Brasil com muitas polêmicas e uma audiência espetacular. Pessoas sentadas em frente à TV acompanhando os movimentos de cada participante e vivendo as “emoções de novela” representadas pelos participantes. Uma simples pergunta me vem à mente: “Os participantes são os “controlados” ou os controladores?”
O termo “Big Brother” teve origem com George Orwell em seu livro “1984”, que narrava uma sociedade vivendo sob vigilância desse “grande irmão” que tudo vê e controla. Na psicologia, ratos são colocados na caixa de Skinner, uma caixa de vidro, com uma pequena abertura para a água e uma barra, a qual o animal deve pressionar para “ganhar” a água. O rato deve aprender que para ganhar a recompensa, deve agir de uma determinada maneira. Associando o comportamento animal ao humano, os participantes são os ratos, enquanto o público é esse “grande irmão” operando uma caixa de Skinner.
Discussões, relacionamentos, competição, emoção... tudo isso acontece naturalmente. Um grupo de pessoas reunidas apresenta também esses comportamentos pelo simples fato de serem humanos. Relacionar-se faz parte da vida e cada um tem uma opinião diversa sobre os mais variados conceitos. A diferença do Big Brother para a sociedade como um todo, é que além dessas pessoas estarem competindo, elas estão também sendo observadas.
A famosa “espiadinha” dos participantes em um ambiente confinado os leva a reagir de uma determinada maneira para conquistarem a empatia do público e consequentemente, o prêmio em dinheiro. O modo como as pessoas se comportam quando estão sozinhas é diferente de quando estão em uma “vitrine de competição”. Os “ratos” devem aprender a melhor maneira de sobreviverem à competição. A pergunta que sempre me faço é: “Para quê fazem isso?”

Infelizmente, a resposta aparece no consultório. A demanda de muitos pacientes diz respeito à falta de reconhecimento. Ela vem em forma de ansiedade, depressão, isolamento, desmotivação e solidão. A busca pela praticidade e os avanços tecnológicos fazem o tempo “voar” e os relacionamentos tornarem-se mais voláteis. O comportamento aprendido é o desapego. Como consequência, as pessoas começam a sentir falta da companhia, do cara a cara, do elogio. A falta de reconhecimento leva à angústia de viver sem ser notado. É aí que a busca pela atenção se transforma em entretenimento... e mais tristeza.