sábado, 25 de março de 2017

“O afeto é revolucionário”



Apenas sete meses de vida e uma história tão longa para contar. Um diagnóstico, as complicações de saúde, mas finalmente a esperança de recuperação. A difícil realidade de quem precisa acreditar nos outros para sobreviver. No entanto, como sensibilizar as pessoas que foram educadas a não deixar transparecer seus sentimentos em plena era de relacionamentos digitais?
O filme “Ensaio sobre a Cegueira”, baseado no livro homônimo de José Saramago, mostra como as pessoas passam a se comportar (e a serem tratadas) após uma epidemia de “cegueira branca” atingir a cidade. A perda da visão é usada como metáfora para o fato de não querermos enxergar os outros, focando-nos cada dia mais em nossos problemas e minimizando o sofrimento alheio.
A era racional e prática raramente dá margem à sensibilidade. A constante exposição à violência, à falta de respeito e às mortes leva a um sentimento de frieza. O sentimento de culpa, que a princípio temos pelas injustiças sociais, se transforma em frieza para que nosso consciente não sofra com essa punição inconsciente de que “eu poderia fazer algo para mudar isso.” No entanto, muitas vezes o incômodo prevalece e é aí que reside a empatia.
Empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro. É só assim que podemos compreender a dor do outro, um sofrimento que não temos ideia de como é, mas que conseguimos imaginar pelo simples fato de estarmos dispostos a compreender. É somente com empatia que entendemos que dores não são comparáveis; minha angústia não é maior nem menor que a do outro, ela é diferente, pois cada um sente de uma maneira com uma intensidade diferente.

Foi com essa sensibilidade ainda presente no ser humano que Joaquim, diagnosticado com atrofia muscular espinhal (AME) tipo 1, despertou a empatia de milhares de pessoas, que se mobilizaram e fizeram doações com esperança na recuperação da criança. Em tempos de crise financeira e emocional, a cabeça parece que vai explodir... ainda bem que é o coração quem insiste e resiste talvez para mostrar que o afeto é sim revolucionário.